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Quem quer apostar uma pizza que a CPI da Petrobrás terminará como todas as outras, isto é, em pizza? Contudo, esta é uma que, se tem as mesmas fatias insossas de outras, tem também ingredientes curiosos. A começar pelos sempre vigilantes militantes da CUT e de outros movimentos ditos sociais que saíram dando abraços simbólicos no Congresso Nacional e em locais estratégicos de outras capitais para protestar contra a instalação da CPI. Por que o temor?

Parece haver receio de que as investigações atinjam certos ambientes, especialmente palacianos. O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), em reunião recente na Associação Comercial do Paraná, manifestou sua estranheza diante da ira contra a instalação da CPI, dizendo que há parlamentares, independentemente de partidos, que querem apenas a verdade sobre a estatal. "Não queremos derrubar ninguém", disse. Ou seja, esta pizza tem sabor azedo para alguns. Tanto que a CPI já foi adiada por três vezes, apesar de seus 11 titulares e 7 suplentes já estarem escolhidos.

Mas, será muito ruim se a CPI for instalada (mesmo com toda a artimanha dos governistas para atrasar o início dos trabalhos), provar culpas e não punir culpados.

Será muito desgastante se, depois de semanas de investigação, acusações, levantamento de provas, com muito tempo e dinheiro gastos e muita gente querendo aparecer, muito circo e jogo de cena, nada for apurado. Porém, será muito pior, repito, se crimes forem comprovados e ninguém for condenado. A sensação ruim restará para nós, que mais uma vez pagamos a conta. Se for para ser instalada e terminar em pizza, desmoralizada e e com o poder de desmoralizar a democracia, é melhor rever a CPI. Ou se instala e se cobra resultados para valer ou é melhor comer a pizza antes.

Pensando bem, desta vez vou me juntar à reivindicação dos cutistas e do presidente Lula, que têm pavor da CPI, assim como dos líderes do PMDB e do PT, Renan Calheiros e Aloízio Mercadante, cujas alegadas desavenças estariam envenenando as relações entre seus partidos, embora meus motivos sejam diametralmente opostos aos dos cutistas, lulistas, petistas e peemedebistas. Por mais que haja boa vontade de alguns parlamentares em querer desvendar possíveis irregularidades na Petrobras, a tropa de ataque do governo, que será a maioria, fará de tudo para que nada seja apurado ou, se for, ninguém seja punido. Por outro lado, duvido que a própria oposição tenha a coragem de ir até as últimas consequências. As pressões, os conchavos e/ou promessas de cargos e recompensas são moedas de troca aparentemente irresistíveis. Já vimos este filme antes.

Portanto, em vez de mais uma CPI viciada, que pode dar em nada – a não ser em um tremendo gasto aos cofres públicos –, não seria mais barato, racional e menos circense contratar uma auditoria independente e séria para detectar se houve roubo, corrupção, licitações arrumadas e favoritismo? Não seria mais correto que o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União investigassem as suspeitas, entre outras, sobre a empresa em jogadas contábeis para recolher menos impostos e contribuições a ONGs e entidades fantasmas que só fazem esvaziar seu caixa? Se o MP e o TCU cumprirem seu papel, levando os culpados à Justiça, se existirem, podemos dispensar, desta vez, a CPI. Até porque, sem prejulgar, duvido que a Petrobras sobreviva a uma auditoria séria em suas contas.

Por isto, no caso da Petrobras – e para um democrata não é fácil admitir isso – eu dispensaria a CPI. Até porque se estamos prevendo um resultado vazio, com tudo terminando em um grande espetáculo circense, se a Petrobras continuará sendo usurpada, se Renan Calheiros continuará debochando da população brasileira, se os deputados envolvidos em escândalos continuarão se reelegendo e se o destino das investigações e de seus resultados é a lata do lixo, não há motivos para realizá-la. Vamos correr os riscos de cair nas armadilhas de sempre ou fazer uma opção diferente?

Cláudio Slaviero é empresário, ex-presidente da Associação Comercial do Paraná e autor do livro A vergonha nossa de cada dia.

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