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Diante do noticiário sobre a corrupção de um modo geral e no caso específico da Assem­­bleia Legislativa do Paraná, o primeiro sentimento das pessoas é a indignação, a re­­volta, por ver que o roubo do dinheiro público extraído do contribuinte se transforma em recursos privados nas mãos de políticos inescrupulosos, paradoxalmente eleitos pelo próprio povo.

Tal atitude de indignação não tem alterado a indústria da corrupção. Tal indústria continua enriquecendo uma minoria em detrimento de uma ampla maioria que não tem nem sequer suas necessidades básicas e fundamentais atendidas como educação, saúde, habitação e emprego.

É preciso mais do que a indignação. É preciso co­­nhecer as raízes da corrupção para que possamos ser consequentes em nossas reações.

Para isso temos de recuar no tempo e perceber que foi construída com a prática patrimonialista da coroa portuguesa, nas formas de concessões das terras aos colonizadores. O Império continuou com essas práticas ao favorecer o acesso à terra sem qualquer custo, às oligarquias rurais, aos barões do café, que pela prática da corrupção dominaram até a década de 30 o poder da República Velha, com a famosa política do "café com leite", pela qual mineiros e paulistas se revezavam no poder há cada quatro anos e o voto era de cabresto com os grandes proprietários rurais controlando as urnas. Hoje, mesmo existindo a Justiça Eleitoral, as urnas são controladas com métodos mais sofisticados de corrupção na compra de votos.

No final do Segundo Império, houve a tentativa de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, de modernizar o país quando iniciou a industrialização para modificar a sua estrutura econômica e so­­cial e assim mudar o modo de governar o Brasil. Era contra a escravidão, enfrentando a reação da oligarquia cafeeira, que explorava os escravos e era contra a industrialização. Sofreu a perseguição do Segundo Império que, aliado à oligarquia agrária e à Ingla­­terra, destruiu o sonho de Mauá e assim o Brasil atrasou sua industrialização por quase um século. Hou­­ve neste episódio todas as formas de corrupção para desestabilizar Mauá. Isso porque o Segundo Império quebrou financeiramente Mauá e o seu banco, suas indústrias e estradas de ferro, quando fez um acordo com os ingleses que entraram como sócios dos negócios de Mauá, na construção de ferrovias para escoar o café ao porto de Santos e não honraram seus compromissos, levando Mauá à falência. Quem quiser conhecer melhor essa história veja o filme Mauá o Imperador e o Rei.

No período do Estado Novo, na ditadura de Getúlio Vargas, mesmo reconhecendo seu papel na industrialização do Brasil, não podemos deixar de ver as práticas populistas que engendraram práticas de corrupção, como por exemplo a doação de dinheiro pú­­blico pra salvar os fazendeiros do café que estavam falidos, facilidades aos banqueiros e industriais que apoiavam o ditador e o atrelamento dos sindicatos ao Estado com benesses concedidas às lideranças sindicais. Os sindicalistas e políticos que resistiram foram duramente perseguidos, presos e eliminados pela polícia do Estado Novo. Tal prática persiste até hoje. Basta verificar a quantidade de líderes sindicais que estão pendurados nos conselhos das estatais, fundos de pensão, ministérios e órgãos públicos, com altos salários e em troca ajudam a amortecer o movimento sindical. A forma mais inteligente adotada por Var­­gas para cooptar o movimento sindical foi a criação do imposto sindical, que representa um dia de salário dos trabalhadores por ano apropriado pelos sindicatos. Isso cria a burocracia sindical e a não renovação de lideranças dos trabalhadores.

O que precisamos compreender é que as formas de corrupção foram institucionalizadas e acabaram contaminando grande parte do tecido social, e as pessoas percebendo essa prática acham que para conseguirem alguma coisa têm de aderir para se beneficiar.

Assim dá para entender o desvio de R$ 23 milhões da Assembleia para uma rede de poucas pessoas, parentes e amigos que participaram da farra com o dinheiro público. Felizmente, existem cidadãos que a cada dia percebem melhor tal prática e estão buscando se mobilizar para combatê-la, pois a corrupção é um câncer que precisa ser extirpado ou contaminará todo o tecido social. Para combater tal prática precisamos conhecê-la profundamente. Caso contrário, ela dará uma recuada estratégica e voltará com mais força em pouco tempo. Isso porque os mandantes tentarão continuar em seus postos estratégicos.

Lafaiete Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico pela UFPR, é professor do Programa de Mestrado em Organizações e Desenvolvimento da FAE Centro Universitário

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