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Em outubro do ano passado, às vésperas das eleições presidenciais, 164 economistas brasileiros, de instituições de ensino e pesquisa nacionais e estrangeiras, redigiram e assinaram um manifesto que apresentava fatos contrariando o discurso da presidente e candidata do PT, Dilma Rousseff. No manifesto, os economistas indicaram a volta dos fantasmas da inflação e da instabilidade macroeconômica, causadas por uma política monetária inadequada e a utilização recorrente de truques contábeis, que destruiu a confiança na política fiscal, gerando um cenário macroeconômico extremamente adverso, com inflação alta e crescimento baixo.

Os economistas ainda afirmaram que “o governo Dilma amedrontou os investimentos”, não só privados, mas também os feitos pelas empresas estatais, indicando especificamente que “por conta de empreendimentos questionáveis do ponto de vista econômico, a capacidade de investimento da Petrobras foi comprometida”.

Nove meses se passaram desde o manifesto dos economistas e vale a pergunta: eles estavam certos?

Em conclusão à análise conjuntural da economia, os economistas afirmavam: “No ambiente econômico do Brasil de hoje, os frutos de um novo empreendimento podem ser facilmente corroídos por mudanças inesperadas nas regras do jogo, pela alta inflação e pelo baixo crescimento econômico. Portanto, não é surpreendente que o investimento tenha colapsado. Sem investimento, o Brasil jamais retomará o seu caminho para o desenvolvimento. E sem desenvolvimento, os avanços sociais obtidos com muito sacrifício ao longo das últimas décadas sofrerão retrocessos”.

Apesar de não manifestar claramente qual era a posição partidária – e o objetivo foi justamente não manifestá-la, dado que entre os assinantes havia indivíduos simpatizantes de diversos partidos, inclusive fazendo parte de campanhas diferentes –, a posição dos assinantes era clara: contrária à política econômica conduzida pela gestão Dilma Rousseff/Guido Mantega.

Um mês após a publicação do manifesto pela internet e redes sociais, consagrou-se a vitória de Dilma. De lá para cá, muita coisa mudou, com a equipe econômica tendo sido toda trocada. Nove meses se passaram desde o manifesto dos economistas e vale a pergunta: eles estavam certos? Ou houve “exageros” e “intenções eleitoreiras”, como alguns acusaram?

Tomando como referência apenas os últimos dois meses, as expectativas são de uma inflação, em 2015, muito acima do teto superior da meta. E essas expectativas só têm piorado semana após semana. Se em começos de abril o mercado já esperava algo acima de 8%, em 24 de junho, o próprio Banco Central reviu sua projeção para nada menos do que 9%. E ninguém garante que o movimento pare por aí. Para os preços administrados (tarifas no geral), a previsão é ainda mais alta: 13,7% no ano, e, somente para a energia elétrica, 43,3%.

Por outro lado, as previsões de crescimento econômico têm movimento oposto: se desde o começo do ano já se esperava que o país teria retração de cerca de 1%, agora as revisões já preveem um encolhimento ainda maior: 1,1% de acordo com o BC e 1,5% na previsão do mercado, segundo o boletim Focus.

Nas contas públicas, o primeiro governo Dilma terminou com o registro histórico do primeiro déficit primário (receitas menos despesas, sem contar juros) desde 2001. Os últimos números deste ano, de maio, indicam um déficit naquele mês de R$ 6,9 bilhões, gerando um déficit acumulado nos últimos 12 meses de 0,68% do PIB. Vale lembrar que esse é um indicador crucial na análise das agências de rating e pode definir se o Brasil continuará ou perderá o seu grau de investimento.

Com relação à balança comercial, após iniciar os dois primeiros meses também no vermelho, a tendência tem sido de superávit: o mês de junho fechou com um saldo positivo de US$ 215 milhões. No entanto, o motivo não é animador: a redução no ritmo da economia como um todo, que tem mantido o nível de importações bastante baixo.

Haveria ainda vários outros números para se analisar (desemprego em alta, consumo das famílias em baixa, bem como a confiança de empresários e consumidores etc.), mas podemos parar por aqui. Vale repetir a pergunta: os economistas que assinaram o manifesto de outubro de 2014 estavam apenas fazendo um “complô eleitoreiro”?

E vamos torcer para o futuro próximo...

Luciana Yeung, especialista do Instituto Millenium, é professora de Economia do Insper.
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