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Dois discípulos de Jesus estão retornando de Jerusalém para Emaús, depois dos tristes acontecimentos da paixão e morte. Estão tristes: viram cair por terra todos os seus planos. Aguardavam um Messias glorioso, um rei poderoso, um vencedor e se encontraram diante de um derrotado. Os rabinos ensinavam que o Messias deveria viver mil anos, e Jesus, ao invés, morreu. Todas as esperanças desmoronaram. Esta é a história das comunidades do evangelista Lucas; São perseguidos, são vítimas de ciladas, percebem os triunfos das obras da morte, devem reconhecer que os espertos levam vantagens sobre os homens corretos, os malvados dominam sobre os puros de coração; encontram-se nas mesmas condições de espírito que os discípulos de Emaús.

E é a nossa história. Também nós, às vezes, nos encontramos nas mesmas condições de espírito. Acontece, quando somos levados a reconhecer a vitória da injustiça sobre a honestidade, quando somos obrigados a constatar que a mentira se transforma nada menos do que em verdade oficial, impostas pelos detentores do poder, quando assistimos ao silêncio ou à morte dos profetas. Então nós também paramos com o semblante triste quase resignados diante dos fatos de que o mundo novo anunciado por Jesus não vai se realizar, e na convicção de que os ladrões e os malvados sempre serão bem sucedidos. De que modo os dois discípulos conseguem descobrir que Jesus, o derrotado é o Messias? Como podem entender que a vida nasce da morte? A estrada que o Ressuscitado lhes abre para percorrer é a das Escrituras. É a Palavra de Deus que desvenda o mistério. Por não terem entendido a Bíblia, os discípulos raciocinam como homens, não interpretam o que aconteceu com o olhar de Deus. Por isso, Jesus os repreende: "Ó insensatos e duros de coração para acreditar na palavra dos profetas! Não era por acaso necessário que o Messias passasse da doação da vida para entrar na sua glória?" (Lc 24, 25).

O caminho da cruz é de fato incompreensível para os homens; somente ao ler as escrituras se descobre que Deus é tão poderoso que o maior crime cometido pelos homens, Ele transforma em sua obra prima de salvação. Não é suficiente, porém, ler a Palavra de Deus, é necessário entendê-la e para isto é preciso que alguém a explique e, se possível, o faça a ponto de "abrasar o coração" (Cf. Lc 24, 32).

Pela tarde daquele primeiro "domingo" os discípulos chegam em casa, e Jesus com eles. Quando se sentam à mesa, Ele "toma o pão, abençoa-o, parte-o e o distribui entre eles" (Lc 24, 30). É fácil compreender o que Lucas quer dizer: os olhos dos cristãos se abrem e reconhecem o Ressuscitado durante a celebração litúrgica dominical. Lucas quer ensinar que todos podem encontrar o Ressuscitado. Onde? Na celebração comunitária, podem vê-lo através dos sinais dos sacramentos, mas na hora em que o reconhecem... Eis que Ele já não é mais visível.

Dom Moacyr José Vitti, CSS Arcebispo Metropolitano de Curitiba

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