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| Foto: Mauro Pimentel/AFP

A tensão entre a população das cidades de Roraima e os refugiados venezuelanos – que resultou em graves e recentes confrontos, quando eles foram atacados por uma multidão em Pacaraima, na fronteira com o país vizinho, depois que um comerciante brasileiro foi assaltado e espancado por alguns deles – não deixa dúvida sobre a necessidade dos governos federal e daquele estado abandonarem discursos de ocasião e tomarem medidas urgentes para dar solução à grave situação.

Roraima, o menor estado da federação, vive um drama humanitário: ajudar os venezuelanos que chegam ao Brasil fugindo da devastação econômica, política e social provocada pela ditadura instalada no país vizinho.

Segundo dados do Exército o número de refugiados que cruzam a fronteira de Pacaraima, no extremo norte do país, subiu de 500 para 800, ou seja, todos os dias 800 venezuelanos ingressam no território brasileiro. Ainda assim esse número não representa a realidade já que existem muitas rotas clandestinas na região que são usadas pelos contrabandistas de armas e drogas.

Segundo informações do Grupo Rede Amazônica, cresce o número de venezuelanos aliciados pelo tráfico de drogas e pelas redes de prostituição. A situação é gravíssima. Está instalado o caos social, uma bomba relógio pronta para explodir a qualquer momento.

Cresce o número de venezuelanos aliciados pelo tráfico de drogas e pelas redes de prostituição

O governo federal alega que já gastou mais de R$ 200 milhões com aplicação de medidas que tomou para ajudar a minorar a crise humanitária provocada pela chegada em massa dos refugiados venezuelanos.

Não se pode esperar muito de Roraima, sabidamente com recursos limitados para enfrentar uma crise como a criada pela presença de número tão elevado de refugiados. Investir mais do que tem feito, e sem demora, na distribuição dos refugiados é, portanto, a melhor maneira – além de prestar assistência humanitária – de o governo federal ajudar e assumir as responsabilidades que tem nessa questão.

O governo federal tem sido reativo e assistimos, mais uma vez, aos dramáticos efeitos da governança espasmódica. As medidas, sempre tardias, chegam na vigésima quinta hora.

A lentidão dos governos em assumir suas responsabilidades reforça um cenário preocupante e ameaçador: o desencanto com a política e o aparecimento de alternativas aventureiras e emocionais. As pessoas estão nauseadas, enfadadas, não sei o termo, estão enojadas. As pesquisas eleitorais mostram uma gigantesca fatia de branco, nulo, indeciso. O desânimo é com tudo. A decepção com a política é completa. Se o o voto fosse facultativo, quase 60% não votaria nesta eleição.

Opinião da Gazeta: Os refugiados venezuelanos e o acolhimento humanitário (editorial de 21 de agosto de 2018)

Leia também: Uma ameaça para todos (artigo de Simón Aliendres León, publicado em 30 de julho de 2018)

Uma poderosa luz vermelha está acesa. A sociedade está exaurida. A incompetência e a impunidade são o estopim da radicalização. Os problemas de segurança pública, mobilidade urbana, carências nas áreas da saúde e da educação. passaram da conta. Pronunciamentos na televisão e transferência de responsabilidade não funcionam mais. O povo cansou-se. E a exaustão pode despertar forças incontroláveis.

O custo humano e social da corrupção brasileira é assustador. O dinheiro que desaparece no ralo da delinquência é uma tremenda injustiça, um câncer que, aos poucos, vai minando a República. As instituições perdem credibilidade numa velocidade assustadora. Pagamos impostos extorsivos e recebemos serviços públicos de péssima qualidade. A economia range não por falta de vigor e de empreendedorismo. Ela está algemada por uma infraestrutura que não funciona e, por isso, os produtos não chegam ao destino.

Os políticos e governantes precisam acordar. Os justiçamentos, terríveis, são o primeiro passo de comunidades que começam a virar as costas para as estruturas do Estado. A “justiça” direta é terrível. É preciso dar uma resposta efetiva aos legítimos apelos da sociedade e não um discurso marqueteiro. A crise que está aí é brava. O isolamento mental de Maria Antonieta, em 1789, acabou na queda da Bastilha. A história é boa conselheira. Os políticos precisam sair um pouquinho da Ilha da Fantasia e sentir a temperatura do Brasil real. Os brasileiros merecem respeito.

Carlos Alberto Di Franco é jornalista.
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