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Introduzido no glossário político em junho de 2005 quando Tarso Genro, presidente em exercício do PT, parecia menos arrogante e mais profundo, o conceito de refundação reaparece agora com enorme força. E antes mesmo de conhecidos os resultados do segundo turno.

É óbvio que a derrota de um dos candidatos – qualquer que seja – empurrará o seu partido para a indispensável revisão e sacolejo. É inevitável a refundação da agremiação perdedora, derrotas têm o mérito de produzir tais desafios. A dúvida reside apenas na profundidade e intensidade da reconstrução. Uma mexida cosmética, superficial, acionará fatalmente novas debacles.

O dado novo na equação política brasileira é que o partido vencedor – qualquer que seja – também deverá submeter-se a uma reavaliação e recomposição. Significa que tanto o perdedor como o vencedor deste domingo estão diante do mesmo repto – refundar-se. Apesar das aparências opostas, estão diante da mesma exigência.

Em 2002, o PSDB não teve a ousadia para colocar-se diante do espelho para fazer aquela pergunta dolorosa e incontornável: por que perdemos? Escapuliu de um confronto com a realidade e não quis discutir os malefícios da parceria com o PFL. Esqueceu a clamorosa traição perpetrada por ACM nos braços de Lula, fingiu que não houve aquela "facada pela frente" perpetrada por Tasso Jereissati (e denunciada por FHC), enfiou na gaveta as evidências de que Aécio Neves preferiu flertar com Lula pensando na sua sobrevivência como governador a mergulhar na campanha para eleger Serra.

O pior é que o PSDB sequer assumiu o significado do próprio nome – Partido da Social Democracia Brasileira. Optou pelo pragmatismo, apostou no desgaste do PT e imaginou que os fados logo armariam uma revanche. E quando os fados lhe ofereceram a bandeja com o mensalão, não soube o que fazer com ele.

A parceria com o PFL foi essencialmente perniciosa embora tenha funcionado em casos esporádicos, como o de Marco Maciel, graças aos seus atributos pessoais. Por culpa desta proximidade, esqueceram-se os compromissos ideológicos e morais que levaram aquele grupo de peemedebistas a criar o PSDB. Por força da convivência com coronéis que traziam no seu DNA as heranças do PSD, UDN e Arena, o PSDB esqueceu Franco Montoro, Teotônio Villela, José Richa e Mário Covas. Sobretudo este. José Serra percebeu os perigos do contágio com o PFL, por isso montou uma chapa "puro-sangue" para o governo do estado. Ganhou, mas no plano nacional era impossível recuar.

O processo de despersonalização e emasculação do PSDB culminou com a desastrada e desastrosa escolha de Geraldo Alckmin para enfrentar Lula. No meio dos tucanos atrapalhados pelos enormes bicos e vistosas plumagens, não apareceu quem conseguisse enxergar a especificidade de um político que se adapta à condição de vice de Mário Covas. Transformado em seu sucessor graças aos caprichos do destino, imaginou-se que estas mesmas forças superiores seriam capazes de produzir um clone perfeito. O Todo-Poderoso é mais sábio do que se imagina.

A refundação do PT também é inexorável e inquestionável, mesmo que se confirme o triunfo preconizado pelas sondagens da sexta-feira. Sem perceber a gravidade do que proclamava, o candidato Lula tornou-a imperiosa no discurso do último comício na periferia de São Paulo, quarta-feira.

Ao reconhecer os erros cometidos e, na mesma frase, garantir que o país melhorou de forma extraordinária, o quase-futuro presidente da República consagrava o postulado do vale-tudo. Não foi gafe casual ou excesso retórico. A mesma associação (explicitada em outros palanques), agora precisará ser definitivamente rejeitada ou definitivamente incorporada. Nos dois casos, o PT precisará manifestar-se de maneira cabal. A idéia da sua refundação nunca foi tão necessária e tão próxima.

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