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A economia brasileira apresenta um desempenho medíocre quando se olha para os principais indicadores macroeconômicos. Nos últimos três anos e no corrente, o crescimento do PIB está abaixo da média dos últimos 20 anos, com grande desaceleração em 2014; a inflação apresenta-se, sistematicamente, no teto da meta; as expectativas dos empresários e consumidores vêm se deteriorando, o que afeta o nível de investimento produtivo e a capacidade de crescimento no médio prazo; o crescimento dos salários e a geração do emprego perderam força; além da deterioração dos déficits externo e interno, sendo o último explicado por uma redução do superávit primário e elevação da taxa de juros.

Assim, estamos em uma rota insustentável que levará o país a uma crise ou estagnação, com geração de desemprego, queda de renda e grandes custos sociais e econômicos. A necessidade de medidas que mudem essa trajetória parece ter ficado clara até mesmo para o governo federal, que, em minha opinião, é o maior responsável pela situação atual.

Para uma mudança de trajetória é essencial desatar alguns nós no curto prazo, além de medidas de longo prazo. No curto prazo, dever-se-ia aumentar a transparência em relação à real situação do superávit primário, adotar medidas de redução dos gastos públicos para aliviar a pressão inflacionária e as contas públicas, além de redução da interferência do governo para controlar preços administrados para conter a inflação de forma artificial. A política de escolha de vencedores nacionais também deveria ser abandonada, visto que se mostra muito custosa e, praticamente, sem nenhum resultado positivo até o momento. Essas medidas seriam suficientes para reanimar os empresários e alavancar os investimentos produtivos.

No entanto, para que a economia possa crescer de forma sustentável, medidas que levam mais tempo e esforço são fundamentais. Nesse sentido, é preciso realizar reformas que nem sempre são populares, como a previdenciária, além do controle dos demais gastos públicos para que cresçam a uma taxa menor que a do PIB, sendo que ambas as medidas forneceriam maior folga no orçamento público federal, abrindo espaço inclusive para investimento público e redução da carga tributária.

Adicionalmente, o foco na elevação da produtividade é fundamental. Pelo menos cinco eixos parecem ser fundamentais para isso: melhora na qualidade do sistema educacional, com a implementação de incentivos por desempenho e valorização dos docentes, sobretudo nos níveis de ensino pré-escolar e fundamental; estabelecimento de regras claras que reduzam a incerteza, melhorem a alocação de recursos produtivos, protejam e estimulem investimentos privados; maior integração da produção interna com o resto do mundo, estimulando a produção de bens e serviços em que o país já é competitivo; reforma tributária que reduza a complexidade e irracionalidade econômica do sistema; e investimentos na melhora da infraestrutura e logística.

Mas, antes de tudo, é preciso planejamento com uma boa equipe de técnicos de diversas áreas para verificar a melhor forma de se atacar os pontos levantados, sempre lembrando que é preciso haver vontade e esclarecimento da população para a viabilidade política de tais reformas.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, é professor do programa de pós-graduação em Economia Aplicada da FEA-RP/USP.

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