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Uma estratégia de crescimento com equilíbrio nas contas externas é uma condição necessária, mas não suficiente para que seja sustentável ao longo do tempo

Os resultados apresentados pelas contas externas brasileiras nos mostram que estamos retornando à rota do crescimento com dependência ou poupança externa. Em 2009, o país apresentou um déficit em conta-corrente de US$ 24,3 bilhões, enquanto a previsão do Banco Central para o ano corrente é de que ele seja de US$ 49 bilhões!

Além da rápida elevação do déficit, outro problema é que boa parte de seu financiamento depende da entrada de capitais de curto prazo que são voláteis e podem sair do país ao menor sinal de instabilidade econômica. Mas qual seria o problema do crescimento com dependência de recursos estrangeiros?

Existe um argumento de que esses déficits são apenas um reflexo do aumento do investimento em uma economia com poupança interna insuficiente. Desse modo, eles seriam benéficos no sentido de elevar a capacidade produtiva e o crescimento de um país ou região.

No entanto, o processo de apreciação cambial no Brasil, por um longo período de tempo, tem estimulado o consumo de bens importados em detrimento daqueles produzidos internamente, além de alavancar o turismo internacional. Somente no primeiro semestre deste ano, os brasileiros gastaram US$ 7,1 bilhões com viagens para o exterior ou com compras pela internet em sites estrangeiros. Ou seja, o surgimento e crescimento do déficit externo tem como causa principal o câmbio apreciado e não a reduzida taxa de poupança doméstica.

Uma das consequências desse processo é a entrada da economia em um ciclo de endividamento externo, o que, a partir de um determinado momento, gera desconfiança por parte dos investidores de sua capacidade de pagamento e consequente fuga de capitais. Esta, por sua vez, leva a uma desvalorização/depreciação da moeda nacional, com grande elevação da dívida em moeda doméstica de agentes privados e públicos, quebra dos mesmos e uma crise sistêmica.

No curto prazo, o processo de apreciação cambial até parece favorável, pois ao baratear os bens importados e as viagens ao exterior eleva a renda das pessoas. No momento atual, em que temos um bom fluxo de investimentos estrangeiros, de capital de curto prazo e alto nível de reservas, não vemos sinais de crises cambiais pela frente. Entretanto, não podemos pensar no prazo de dois ou três anos se queremos entrar em uma rota de crescimento sustentável. É crucial que se tenha um pensamento de longo prazo, com a adoção de medidas que só apresentam resultados nesse período.

Com os argumentos apresentados acima, não quero dizer que contas externas equilibradas levarão o país ao crescimento sustentado, pois ainda precisamos de significativos investimentos na qualificação dos trabalhadores e empresários, na infraestrutura de transportes e no desenvolvimento de instituições que estimulem o crescimento, para citar alguns, sendo que todos demandam visão de longo prazo. No entanto, já conhecemos bem a rota do crescimento com endividamento externo, sendo similar ao voo da galinha. Uma estratégia de crescimento com equilíbrio nas contas externas é uma condição necessária, mas não suficiente para que seja sustentável ao longo do tempo.

Antes de mais nada, precisamos mudar para uma visão de longo prazo e adotar medidas que sejam compatíveis e consistentes com esse período de tempo. Outro ponto fundamental é a persistência em tais medidas, pois muitas vezes é dito que certas medidas serão adotadas, mas elas se perdem no caminho. Por exemplo, onde está o país que estimula as exportações com várias regiões do mundo, como era a propaganda oficial alguns anos atrás?

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, professor do Departamento de Economia da UFPR, é pesquisador do CNPQ e coordenador do boletim de Economia & Tecnologia.

E-mail: luciano.nakabashi@gmail.com

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