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| Foto: Charles Dharapak/AFP

Pouco mais de um ano após a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016, culminando com o encerramento dos Jogos Paraolímpicos, nós, brasileiros honestos e cumpridores de todas as nossas obrigações fiscais, presenciamos, no início do mês de outubro, por meio dos veículos de comunicação, mais uma tragédia anunciada de corrupção: a prisão do presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, e seu primeiro escalão, por fraude na compra de votos na candidatura Rio 2016 e um aumento de seu patrimônio pessoal acima de 400% nos últimos dez anos. Pergunto-me se era uma tragédia anunciada, pois esse filme já foi exibido no caso do superfaturamento dos estádios para a Copa do Mundo de 2014, e também pudemos ficar apenas observando e nos omitimos, por que razão? Onde estavam nossas federações esportivas, a comunidade acadêmica formadora de opinião, a imprensa, nossos políticos, nossa justiça e, por fim, nossos tribunais de contas? Ficamos, certamente, comentando em conversas informais, nas redes sociais, na imprensa e nos mais variados lugares quantos bilhões estavam envolvidos nos Jogos Olímpicos. Este processo não poderia ser levantado logo após outubro de 2009, quando a cidade do Rio de Janeiro foi escolhida como sede olímpica? Eu me pergunto por que não fizemos nada...

Quando falamos em Jogos Olímpicos e nos valores transmitidos pelo esporte, remetemo-nos à Grécia Antiga dos filósofos Platão (ele mesmo um atleta) e Aristóteles, que estabeleceram padrões filosóficos para os Jogos. Os políticos e os legisladores gregos estavam bem cientes dos valores e das bases do desporto e sua inserção num contexto coletivo e societário. A proclamação e a defesa de valores como a virtude, a tolerância, a honestidade, a justiça e a equidade foram padrões adotados desde o início dos Jogos, cujo primeiro registro remonta ao ano de 776 a.C. Nos Jogos Olímpicos da Era Antiga estava proibido, efetivamente, matar seu oponente, recorrer dos juízes em público e usar artifícios ilegais para vencer, e vejam só: já na Era Antiga era um ponto de proibição recorrer à corrupção e à intimidação de adversários e juízes. Será que nossos dirigentes passaram por cima dos valores essenciais do espírito olímpico?

O esporte é mais forte que as ações negativas de Nuzman

Com tanta corrupção envolvida em diversos setores do país, perguntamo-nos qual o impacto que esses fatos podem ter no dia a dia do nosso esporte e como podemos fazer uma reflexão crítica da situação esportiva no Brasil. Acabaram os Jogos Olímpicos e falou-se tanto no legado olímpico, mas o que tenho visto são matérias apresentando a falta de conservação dos espaços esportivos construídos e a depreciação dos mesmos; quase todos eles não têm uma política pública de utilização, que, aliás, foi a bandeira para a captação de recursos financeiros – e só escutávamos o discurso de que era necessário mais aporte monetário para que os Jogos acontecessem.

Um movimento olímpico não é feito só de 15 dias de competição, pois seria um absurdo gastar bilhões para 15 dias de euforia. Daria mais de 1 bilhão por dia... O legado olímpico é para toda a população da cidade, com obras de infraestrutura e bem-estar, e deve ser refletido para o país todo, com projetos esportivos visando agregar valores éticos e de cidadania para todo o povo brasileiro por meio do esporte, mostrando para nossas crianças como se constrói uma sociedade eticamente correta. Então, me pergunto: o que foi feito? Hoje vejo que quase nada foi construído ou plantado pelo imenso investimento aplicado; o que vemos é a corrupção maculando nossa imagem para o mundo.

Leia também:  O esporte só será mais limpo quando for mais transparente (artigo de Ubiratan Leal, publicado em 28 de setembro de 2016)

Leia também:Abandono olímpico (editorial de 28 de fevereiro de 2017)

Certamente, o esporte é mais forte que as ações negativas de Nuzman e de muitos outros dirigentes que prejudicam nosso esporte. Espero que possamos, no futuro, acreditar em novos dirigentes esportivos, pois precisamos de pessoas visionárias e, acima de tudo, honestas neste país. Acredito que estamos passando por um momento de renovação de antigas peças, pois o Brasil é um país de esperança, de um povo que pode gerar um futuro melhor em todos os setores da sociedade.

Zair Candido de Oliveira Netto é coordenador do curso de Educação Física da Universidade Positivo (UP).
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