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João Paulo II é alguém de quem não sou digno nem sequer de, curvando-me, desamarrar as sandálias, quando mais de interpretar os pensamentos

Nos doze anos em que escrevo neste espaço na Gazeta do Povo, nunca repeti um texto, mas a beatificação de João Paulo II me obriga a quebrar essa regra. O agora Beato João Paulo II era uma figura superlativa, luminosa em seu carisma, que soube combinar em uma personalidade magnetizante duas qualidades raras: a incontestável liderança espiritual com a capacidade de agir concretamente para provocar mudanças que alteraram a vida da cristandade e da humanidade em geral.

Na ocasião de sua morte, publiquei aqui um texto com o título "O Outro Testamento do Papa", que agora reproduzo.

"João Paulo II deixou um testamento escrito ao longo de seu pontificado. E deixou, também, outro legado límpido e cristalino que não foi divulgado pelas agências de notícias.

‘Deixo para milhões de pessoas, antes proibidas pelo poder de Estados totalitários de acreditar em um Deus e honrá-Lo publicamente, o direito de professar livre e abertamente suas crenças.

Deixo aos envolvidos em lutas fratricidas, ódios milenares e desavenças irreconciliáveis o exemplo de alguém que, no luto por sua morte, uniu os antagonistas, aproximou irmãos estremecidos, serenou os ânimos e adiou os conflitos.

Deixo às grandes potências mundiais, inebriadas pelo seu poder de destruição ilimitada, a lição de que aquele que tem de seu lado Deus e a força moral não necessita de divisões militares para ser ouvido e respeitado pelo mundo inteiro.

Deixo àqueles que perpetuam a iniquidade, desprezam a justiça e contribuem para manter seus irmãos na miséria e na ignorância, a minha condenação firme, o meu desagrado ostensivo.

Deixo aos arrogantes a demonstração de que pedir perdão por erros cometidos no passado pela Igreja é um ato de reconciliação com os que sofreram injustamente por sua causa e um convite para que cada qual examine suas próprias culpas.

Deixo àqueles a quem Deus concedeu o poder da reprodução da espécie humana, a lembrança de que a paternidade e a maternidade não são escolhas gratuitas e de que sua responsabilidade em relação àqueles que geraram não pode ser declinada livremente em função de conveniências pessoais e egoístas.

Deixo àqueles a quem Deus concedeu a iluminação da descoberta científica e do entendimento do obscuro, a advertência para que utilizem seus dons com responsabilidade e prudência, respeitando as fronteiras da dignidade da vida humana, lembrando-se de que são responsáveis perante seu próximo e o Senhor pelo uso que fizerem de seus talentos.

Deixo àqueles que sofrem e que se veem tentados a abreviar sua dor meu exemplo pessoal de que o sofrimento é parte da condição humana e que pode ser suportado até o último dia com o auxílio do Pai.

Deixo àqueles que ficam a certeza de que em minha vida contribuí para que ao morrer existisse um mundo melhor do que encontrei quando nasci.

Deixo aos que permanecem neste mundo a esperança de que lutem para que possam dizer o mesmo quando forem chamados pelo Pai e para que seus filhos vivam melhor do que eles próprios viveram.’

Que mais dizer do legado do Papa? Já me atrevi demais. Afinal, João Paulo II é alguém de quem não sou digno nem sequer de, curvando-me, desamarrar as sandálias, quando mais de interpretar os pensamentos.

A bênção, João de Deus."

PS: Nós, do Centro de Educação João Paulo II, estamos infinitamente felizes, pois nosso padrinho e inspirador vai ser santo. E logo, logo.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do mestrado da FAE business school.

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