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Nesses últimos dias tenho lido e ouvido duas frases que me chamaram a atenção. Uma é: "Agora é olho no olho"; a outra é: "Não tenho medo de cara feia". São frases usuais daqueles momentos que antecedem uma luta. São frases de combate. Elas vêm aparecendo, entretanto, como se fossem marcas da personalidade dos dois candidatos que disputam o Palácio Iguaçu. Por aí querem demonstrar, presumo, que são "destemidos", que seus "exércitos" de militantes só aguardam o sinal do "general". Que estão prontos para o "combate". Agora é: "amigos" contra "inimigos". Que comece a "campanha"!

Não é de hoje que se sabe que a política é a guerra continuada por outros meios. Não seria o inverso? O correto não seria dizer que "a guerra é a política continuada por outros meios?" Não creio. Há mais indícios de que nas nossas relações humanas predomina o choque, que nossas relações sociais são conflitivas, violentas. Que é assim que somos desde há muito: temerosos, desconfiados e agressivos. E que a política atenua, suaviza um pouco essas tensões. A política, então, não elimina os conflitos de uma sociedade, a "guerra social" diária. A política, onde ela existe de verdade, converte-se num meio para que se resolvam as diferenças entre oponentes. Mas sem a eliminação física do adversário; pela palavra, pelo argumento. A política, então, é um meio civilizador de resolver conflitos. E não barbarizante. Não podemos admitir retrocessos.

A quem interessa um clima de tudo ou nada, uma linguagem de batalha neste segundo turno? Além dos que vendem "munição", há mais alguns espíritos carniceiros que sempre tem prazer mórbido de dançar sobre o campo minado e devastado. Ao eleitor não interessa nenhum clima de guerra. A duras penas recuperamos os valores democráticos e com muitos solavancos chegamos aos 18 anos de vigência da nova constituição política da República democrática do Brasil. Espetáculo de força pode gerar manchetes nos jornais, notícia para os candidatos, mas a agressão plantada agora gera divisão depois: não precisamos disso. Ao eleitor interessa eleger um grupo político competente para solucionar prioridades. E não preciso elencá-las. Basta olhar para os índices de escolarização, crescimento econômico e de violência para termos unanimidades fáceis sobre o que é prioritário. Todos conhecemos essas fraquezas. Eis o nosso interesse senhores candidatos. As urnas pedem evidências de que o timoneiro do barco conhece o barco, o rumo e a galera. É por isso que os senhores estão em segundo turno. Não para dar espetáculo de fortaleza de personalidade. Continuamos desconfiados, porém mais exigentes.

Nós eleitores não temos meios diretos para escolher políticas específicas de educação, crescimento econômico e de segurança pública em fase de campanha. Em alguns lugares do mundo essa possibilidade existe. Na mesma cédula eleitoral (em nosso caso a urna eletrônica) escolhem-se também algumas políticas específicas. Tudo bem, não é o nosso caso, por enquanto. Os partidos e os candidatos é que nos ofertam as políticas públicas. Todavia, nos planos de governo há muita coisa escrita que ainda é pura generalidade. Então, no próximo dia 29 de outubro vamos escolher alguém e suas diretrizes genéricas. Só isso. Na verdade, vamos confiar ao eleito o direito de governar.

Se nessa fase não opinamos por políticas, então os candidatos e os partidos poderiam fazer duas coisas fundamentais: 1) explicitar os critérios que usarão para escolha de gestores das secretarias que terão responsabilidades pelos assuntos mais delicados e urgentes; 2) assumir publicamente um compromisso com as condições de governabilidade de seu oponente (em especial nas eleições presidenciais), pois se há algo corruptor de interesses públicos é uma oposição que não deixa o eleito governar.

O Brasil e o Paraná precisam de um clima de aceitação de resultados e de ética republicana. Ataques pessoais durante a campanha eleitoral geram ressentimentos depois. E colado ao ressentimento vem o desejo de vingança e a oposição irresponsável.

A democracia solicita que todas as partes interessadas no resultado das eleições sejam exigentes agora. A Justiça Eleitoral, a imprensa, as universidades, as organizações não governamentais, e todas as entidades que representam interesses organizados. A democracia lhes dá a palavra senhores candidatos: quer que demonstrem que não são apenas gerentes de projetos. Mas que têm condições de identificar os interesses dos paranaenses e de resolver suas prioridades; quer que esclareçam quem fará parte de suas equipes de governo e que assumam um compromisso com a governabilidade de quem for eleito. Aos 18 anos a democracia exige que a tratem como adulta.

Carlos Luiz Strapazzon é professor de Ciência Política nas Faculdades Curitiba e doutorando em Sociologia na UFPR.

carlosdir@uol.com.br

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