• Carregando...

Curitiba deve ou não ter um sistema de transportes metropolitano, o popular metrô? Das principais capitais brasileiras, Curitiba é uma das poucas que não tem transporte urbano de massa sobre trilhos. As que têm, segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa ligada ao Ministério das Cidades, são: Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza e Teresina. Por que não temos? Porque temos sido competentes, até agora. Iniciamos com ônibus em canaletas exclusivas transportando cerca de 80 passageiros por veículo. Passamos para 160 passageiros com o ônibus articulado e 270 com o biarticulado. Um notável aumento de capacidade de 330%. Acrescentamos ligeirinhos e microônibus. Entramos no século XXI com um sistema de transporte urbano, no dizer dos técnicos, eficiente e eficaz. Mas será que a população também pensa assim? Pesquisa informal que tenho realizado nos útimos 5 anos, semestralmente, com meus alunos de graduação e pós-graduação sugere o contrário.

A população de Curitiba e Região Metropolitana vê os problemas inerentes a mobilidade urbana diferentemente dos técnicos. Os cidadãos percebem o trânsito e o transporte urbano como lento, congestionado, deteriorado, poluidor e superlotado. Será que lhes assiste razão? Somadas, Curitiba e Região Metropolitana têm 2,7 milhões de habitantes. São mais de 23.000 viagens/dia e cerca de 2,3 milhões de passageiros. Nos horários de pico, segundo a Urbs/Ippuc, alguns trechos do corredor sul operam com 67 ônibus por hora; mais de um ônibus por minuto. Em julho deste ano atingimos a marca de 1 milhão de veículos registrados para uma população de 1,8 milhão de habitantes. É o maior índice de motorização das capitais brasileiras. Hoje, em Curitiba, desfruta-se das delícias do congestionamento a qualquer hora do dia.

O metrô não é solução mágica para todos os problemas urbanos, mas sem dúvida aponta na direção correta. O grande desafio deste século é o crescimento sustentado; crescer pensando nas gerações futuras. Poluir menos e consumir energia racionalmente exige um longo processo de convencimento e reeducação para a cidadania que, no caso dos transportes urbanos, passa pela mudança nos hábitos de locomoção. Em cidades com metrô, executivos e profissionais liberais engravatados, jovens estudantes e senhoras bem vestidas que jamais entrariam num ônibus, sentem-se confortáveis em usar esse meio de transporte. Metrôs são mais seguros, mais rápidos e são ambientalmente corretos. Metrôs são caros, mas investimentos em infra-estrutura de transportes são investimentos de elevado cunho social, pois facilitam o acesso a escolas, hospitais e demais serviços públicos. Ao mesmo tempo contribuem para elevar a auto-estima das populações mais periféricas que se sentem valorizadas e atendidas com investimentos e não migalhas. Metrôs são obras complexas e, como tal, facilitadoras de progresso tecnológico e econômico, gerando empregos nas fases de projeto, execução e operação. Metrôs são obras demoradas, mas um sistema de transporte eficiente não surge por encanto. Vale lembrar que o atual sistema foi gestado ao longo de pelo menos 18 anos, de 1974, quando a primeira canaleta foi implantada, até 1992, quando o biarticulado iniciou a operação. De 1992 até hoje o sistema tem sido sempre melhorado e aperfeiçoado. No metrô serão mais 5, 10, talvez 15 anos entre estudos, projetos, licitação, contratação, construção, operação, expansão e interligações. Isto parece uma desvantagem? Pode ser, mas uma jornada começa com o primeiro passo e quanto antes ele for dado melhor.

Curitiba é hoje reconhecida mundialmente pela qualidade de seu transporte público e pelas soluções inovadoras que tem ousado implantar. No passado, canaletas exclusivas e calçadões tiveram seus críticos e hoje são exemplo e orgulho. Com o metrô não será diferente. Finalmente: metrô, ter ou não ter? Quem deve decidir é a população.

Ricardo José Bertin é engenheiro civil, mestre em engenharia e operações de transportes pela Newcastle University (Inglaterra) e professor de transportes, ferrovias e logística da PUCPR.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]