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Sínteses – O Congresso Nacional deve ser reduzido?

Seria a redução parlamentar italiana um modelo para o Brasil?

(Foto: Marcos Tavares/Thapcom)

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Por ser o país com o maior número de representantes de toda a Europa, a polêmica em torno da redução parlamentar já existe há muito tempo na Itália. Desde 2016, durante meu mandato como deputada na legislatura italiana, este é um tema bastante debatido na Câmara. Até que em 2019, o Congresso lançou uma nova proposta constitucional que prevê a redução em um terço dos parlamentares, passando de 630 para 400 deputados e de 315 para 200 senadores, se igualando aos demais países europeus.

Para ser aprovada, a proposta de redução parlamentar precisa ter a maioria dos votos no Parlamento e a confirmação do povo através de referendo popular. Neste momento, após já aprovada em congresso, a Itália aguarda a segunda fase para finalizar o processo. Entretanto, devido à pandemia do novo coronavírus, o referendo popular teve de ser adiado e será reconvocado para o segundo semestre deste ano.

O objetivo é duplo: por um lado, incentivar uma melhoria no processo de tomada de decisão, para diminuir a burocracia e facilitar os trâmites frente às necessidades dos cidadãos e, por outro, reduzir o custo da política, mesmo que pouco. Entretanto, cientistas políticos alertam que essa redução enfraqueceria a democracia por facilitar que grupos de interesse tenham maior poder de barganha com um número menor de parlamentares. E é neste ponto que devemos nos atentar à política brasileira.

Recentemente, grupos aliados ao atual governo têm citado os acontecimentos na Itália para tentar introduzir uma redução de parlamentares no Brasil. Entretanto, é importante lembrar que a política desses dois países é muito distinta. Na Itália é adotado o regime parlamentarista, em que os poderes executivo e legislativo são interligados. Já no Brasil o regime é presidencialista, ou seja, o poder executivo é exercido pelo presidente da República, eleito pelo voto direto, que depende do legislativo e, se não tiver coalizão suficiente, não tem apoio para implementar suas políticas.

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Neste caso, uma redução dos parlamentares brasileiros poderia de fato acarretar em um problema para a democracia, como previam os cientistas políticos italianos. Além disso, o Brasil já conta com um número contido de deputados e senadores, são 594 para uma população de mais de 200 milhões de habitantes – número 3 vezes maior que o da Itália.

A redução dos parlamentares é uma reforma constitucional complexa. Este trâmite depende, em seguida, de uma reforma eleitoral. Não basta apenas reduzir o número de cadeiras, tem de ser feita uma nova lei de eleição, para saber como serão preenchidas essas vagas. E uma lei eleitoral precisa ser muito democrática e muito bem distribuída, para que todos os setores da sociedade tenham representatividade. No Brasil, o que realmente precisamos é de uma revisão nos custos da política, mas isso pode ser feito de outras formas.

Renata Bueno é uma política brasileira. Foi eleita vereadora de Curitiba (PR) pelo PPS no ano de 2009 e, mais tarde, entre 2013 e 2018, atuou como deputada do Parlamento da República Italiana pela União Sul-Americana dos Emigrantes Italianos.

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