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O risco pode ser 45% maior para pessoas com um tipo sanguíneo específico, e 35% menor para outro
| Foto: Bigstock

Esta impressão que muitos têm, e tem fundamento! Com a pandemia e os seus impactos catastróficos, a atenção, no mundo todo, tem se voltado mais ao coronavírus. Nas ruas, na imprensa só se fala disso.

Mas faz sentido. Não há remédio, não há vacina, não se sabe o suficiente sobre quem pode adoecer, morrer, quem não. A única certeza é de que o vírus tem um poder muito alto de infecção e de que o sistema de saúde pode, de uma hora pra outra, chegar ao colapso, sem dar chance de tratamento aos pacientes. Então, é urgente entender que todos devem se cuidar.

Mas os impactos do coronavírus têm prejudicado também pacientes de outras doenças. E o alerta tem que ser ligado.

Segundo o DataSus, em 2018, as duas principais causas de morte no Brasil foram as doenças do sistema vascular (o que incluem as doenças do coração) e o câncer. A pandemia tem afetado diretamente os pacientes dessas doenças. E os dados são alarmantes.

Segundo a Sociedade Brasileira de cardiologia intervencionista, no Brasil, quatorze milhões de pessoas têm doenças crônicas no coração. Porém, nestes meses de pandemia, houve queda de 73% em procedimentos como a angioplastia coronariana, adotada para desobstrução das artérias, o que ameniza o risco de infartos.

O adiamento destes procedimentos e de cirurgias eletivas, o medo da contaminação em ambientes hospitalares e a falta de médicos e de leitos, agora, ocupados por pacientes de Covid-19, certamente terão ainda mais impactos negativos num futuro próximo. O agravamento destas doenças e o aumento de óbitos em decorrência delas é uma possibilidade real, principalmente se nada for feito agora.

Em relação ao câncer, os procedimentos cirúrgicos no Instituto Nacional do Câncer (Inca) registraram queda de 30 a 40%. Já um levantamento feito pelo Instituto Oncoguia, organização de apoio a pessoas com câncer, aponta que 43% dos pacientes consultados relataram que os procedimentos médicos foram cancelados ou adiados. A preocupação, nestes casos, é de o paciente perder a janela para o tratamento ou ainda de ver a situação agravada num nível irreversível pela decorrência do tempo.

Mas a realidade é que se por um lado há o receio da infecção pelo novo coronavírus, por outro, é que estas demais enfermidades tampouco podem ser menosprezadas.

Além do câncer, outras doenças crônicas, como o diabetes ou a pressão alta, acometem milhões de pessoas no Brasil, também matam, e são fatores agravantes para Covid-19. Deixar de tratá-las, principalmente, neste momento, é um paradoxo perigoso.

Uma série de medidas deveria ser discutida e adotada em âmbito nacional para evitar que quadros controláveis possam vir a se tornar mortais.

A telemedicina pode ser um importante aliado neste momento para consultas e diagnósticos, por exemplo. Porém quando a necessidade é de um exame ou de um procedimento clínico, outras medidas se fazem necessárias.

Ambientes controlados em hospitais com menor incidência de tratamento do Covid-19 e protocolos nacionais para minimização de infecção nos ambientes médicos são medidas urgentes para garantir a segurança dos pacientes em tratamento, principalmente no SUS. É também essencial que se faça uso do banco de dados do SUS e se promova a busca ativa e o monitoramento constante de pacientes crônicos, com orientação, otimização de exames e de consultas.

O papel dos pacientes também é importante. Por mais que precisem se proteger do coronavírus, não devem deixar de seguir as recomendações médicas, nem abandonar ou atrasar o tratamento por conta, ou deixar de tomar a medicação contínua, quando prescrita.

O Sistema Único de Saúde, que já tinha um dia-a-dia difícil antes da pandemia, se vê, agora, em seu limite, e com a necessidade urgente de coordenação. O sistema precisa se reinventar para que não se cometa um erro com consequências sérias e que se prolongarão por muitos anos, afetando a saúde de milhões de brasileiros.

A pandemia é um problema de todos, não apenas dos infectados, mas de todos. É preciso união, esforços coordenados e informação clara, segura, que guie quem precisa a buscar ajuda. E que essa ajuda esteja à disposição!

Luciano Ducci, médico e ex-prefeito de Curitiba, é deputado federal pelo PSB.

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