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O governo Obama termina onde começou: crise, desemprego, polarização e radicalização interna. É inegável que algo se fez: evitou-se a depressão e um desemprego muito pior. Ganhou-se a batalha do seguro-saúde. No essencial, porém, o governo falhou.

Não reverteu a divisão ideológica; perdeu a maioria no Congresso e, por consequência, a capacidade de dominar a agenda. Estancaram todas suas propostas: reforma equitativa dos impostos; estímulos ao crescimento e emprego; renovação da infraestrutura; meio ambiente; imigração.

O sistema político oferece ao mundo espetáculo deprimente. A maioria (ou quase) do Congresso, da Suprema Corte, da mídia de massa obedece a uma orientação que não é conservadora, como gostam de dizer por eufemismo, mas francamente obscurantista e escravizada a interesses financeiros.

A principal diferença em relação ao New Deal dos anos 1930 não é que a crise e o desemprego continuem a resistir, como também sucedeu naquela época. Roosevelt ousou contestar o pensamento predominante com ideias e homens novos. Ajudado pela intensidade do choque, renovou a esperança, a confiança no país e conquistou maioria que duraria quase 20 anos.

Desta vez nem se tentou. Obama preferiu conciliar, governou com os homens e ideias que causaram a crise, apenas em versão água com açúcar. Buscou um consenso apaziguador que desmoralizou seus seguidores enquanto os adversários lhe negavam pão e água. Fica a impressão de que só a direita pura e dura, tipo Reagan, é capaz de construir nos EUA maioria efetiva e decidida.

Hillary Clinton cresceu como secretária de Estado e cada vez domina mais a política externa. No Oriente Médio, melhorou-se muito a herança do governo anterior. Pôs-se fim à guerra no Iraque; o Afeganistão vai aos poucos sendo abandonado a seu destino; desfechou-se golpe sério no terrorismo com a morte de Bin Laden; o regime líbio foi derrubado a fogo lento, sem nova invasão a um país muçulmano. Da mesma forma que está ocorrendo com o regime sírio.

Fracassou, porém, o principal: o processo de paz entre Israel e palestinos, confiado a George Mitchell, que desistiu e voltou para casa. Sobre o Irã, problema número 2, só cabe dizer de positivo que se evitou a insanidade de nova guerra, resistindo à pressão do governo israelense. Dissiparam-se as ilusões iniciais: não se fechou Guantánamo; a política de direitos humanos segue seletiva entre inimigos e aliados; o multilateralismo anunciado era o da colaboração de aliados confiáveis, Otan, Japão e Coreia do Sul, não o da ONU e agências internacionais, entregues a subservientes.

Esvaziou-se o G20 ao impedi-lo de reformar a sério o sistema financeiro. Nas negociações comerciais, na Rio+20, as posições americanas são tão retrógradas como no passado: considera-se êxito reiterar compromissos de 20 anos atrás. A rigidez ideológica sobre Cuba ou a questão das drogas inviabilizaram um documento final em Cartagena. A Cúpula das Américas será lembrada pelas prevaricações sexuais dos seguranças de Obama.

Por enquanto, o sonho acabou. Quem ainda acredita que será melhor após as eleições de novembro?

Rubens Ricupero, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

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