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Estamos passando por crise profunda na saúde brasileira. Uma crise que não afeta apenas a população que, por sua localização, está afastada dos centros mais desenvolvidos. Na periferia das grandes cidades, a deficiência também é testemunhada diariamente. Criaram-se siglas, entre elas as Upas, com a intenção de diminuir as procuras hospitalares, mas elas não obedecem às próprias regras de qualidade, como as necessárias e determinadas pela vigilância sanitária, para evitar contaminações.

Sem condições para funcionar corretamente, essas unidades transformaram-se em mini-hospitais despreparados. Nelas não são encontrados medicamentos apropriados para debelar infecções mais sérias e, então, nos casos graves, os pacientes são encaminhados, na maioria das vezes, já contaminados para os hospitais. Isso acaba induzindo às contaminações nos ambientes hospitalares, principalmente nas UTIs.

A falta de planejamento adequado sempre existiu no Brasil. Não se trata de culpar este ou aquele governo. É inadmissível escutar que pacientes contaminados já constituem uma endemia e pouco ou nada há de se fazer. Será que estes pacientes seriam admitidos pelas organizações cuja preocupação é a segurança do paciente, instituições detentoras de acreditação no mais alto nível? Se isso existe em hospitais de grandes cidades, imaginem o que acontece em locais onde não existe estrutura nem sequer para verificar esse estado, cujo diagnóstico não tem confirmação e a conduta será dúbia.

Estes hospitais vão funcionar como as Upas. Terão de fazer o encaminhamento para hospitais qualificados; os pacientes contaminados não irão iniciar um processo de inviabilidade para pessoas que até então não estavam contaminadas? É inacreditável a situação deste país em matéria de saúde pública. Uma vergonha diante da afirmação constitucional de que saúde é direito de todos.

Falar sobre o programa Mais Médicos causa tristeza; o que existe são intenções políticas de manutenção do poder. Para isso, tentam resolver problemas sérios utilizando meios irreais. Por que não se pensou em estrutura para a saúde antes do investimento para as arenas da Copa do Mundo? O princípio de uma conduta adequada chama-se diagnóstico, e o complemento para bons resultados é a terapêutica adequada somente possível a partir do diagnóstico correto.

Por outro lado, é imperativo que toda a população tenha assistência médica. Evidentemente que sim. Está com o governo, mais especificamente no Senado, o projeto de carreira de Estado para os médicos. Não é hora de o gigante adormecido acordar, começando pela saúde? Cabe aos médicos brasileiros exigir o encaminhamento do projeto. Entendo que no início da carreira não haverá dificuldades de ter os profissionais não importa onde, desde que temporariamente e com possibilidades de evolução na carreira, mas é preciso entender, da mesma forma, a necessidade da estrutura para permitir uma assistência qualificada.

Marcial Carlos Ribeiro, instituidor da Fundação de Estudos das Doenças do Fígado, comendador da Ordem do Mérito Médico Nacional pela Presidência da República e diretor-superintendente dos Hospitais São Vicente (Funef), em Curitiba.

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