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À sumulista circunstancial que se proponha a analisar fatos marcantes num 2005 com tintas de cataclismo, torna-se difícil elencar aqueles que mais tem afrontado o bom senso, os costumes e sobretudo os Direitos Humanos. É que os há de sobejo. O troféu de foco maior gerador de crises cabe ao presidente dos Estados Unidos, George Bush. Sintetizando as muitas insolências, ele mantém obstinadamente as tropas ativas no Iraque, em humilhante ocupação de solo e interferência política. As próximas eleições parlamentares iraquianas que deverão encerrar o processo de transição nos moldes propostos pelos EUA não conseguirão apagar o fato de que 30 mil iraquianos morreram, seja pela guerra seja pelos atentados! A perda dos EUA é de 2.140 soldados.

O citado presidente persiste em manter um programa de aprisionar suspeitos sem qualquer permissão judicial e insistir em prisões irregulares na Europa. O Pentágono espiona rotineiramente todos os pertencentes a organizações pacifistas sem que seja assegurado a eles o direito de defesa. A alegação é de que seriam ameaças à estabilidade estadunidense. Bush dá o tiro de misericórdia nas chances de outros concorrentes ao prêmio quando confirma a vergonhosa construção de muros ao longo da fronteira com o México para impedir a imigração clandestina, segundo ele.

A Europa ferve nas ruas e nos lares com as questões migratória e imigratória que fogem de qualquer previsão a médio prazo. Aliás, a língua sarcástica de Ambroise Bierce assegura que todo imigrante é um indivíduo mal-informado, que pensa ser um país melhor do que outro. Ora, quando se tenciona igualar-se a alguém e desse fazer um guia, é o lado espiritual que deve ser nivelado. O caldeirão europeu não encontra similar na América do Sul, que encerra o ano lavrando marcante ascensão feminina na política. No Chile, a socialista Michelle Bachelet vence o primeiro turno das eleições presidenciais e deverá fazer-se presidente no segundo turno. Leila Rachid exerce a chancelaria paraguaia e a uruguaia Azucena Bermutti, aos 75 anos de idade, é ministra da Defesa. A economista Felisa Miceli ocupa o Ministério da Economia argentino, tendo a seu lado Nilda Garré como chefe da Defesa, controlando as Forças Armadas. Desde 1991, a colombiana Noemi Sanin foi a primeira mulher a exercer a função de Relações Exteriores na A.2, sucedida que veio a ser por Maria Eumamegia e pela atual chanceler Carolina Barko Isakson. A Nicarágua, primeiro país a eleger uma presidente, Violeta Chamorro, mantém o princípio da igualdade estabilizado. Ao emitir pesquisa sobre a violência contra a mulher no Brasil, o Centro de Estudos Sege Cidadania (SP) denuncia que a cada 15 segundos uma brasileira é espancada! Como atrever-se então a concorrer à Presidência? O Brasil aliás foi palco de cenas deprimentes, além do aumento de crimes hediondos, seqüestros, assassinatos e assaltos. A ausência de políticas públicas concretas foi suprida pela corrupção política no cerne governamental, em Brasília. Somente o tempo e as urnas dirão se a oposição acertou em preservar o presidente Lula do lodaçal apurado para não interromper a continuidade do poder. Tudo indica que 2006 trará chumbo grosso: líder cocaleiro boliviano Evo Morales, eleito presidente, anuncia a nacionalização das refinarias de gás e petróleo, lá operadas pela Petrobrás. No âmbito da Rodada de Doha, porém, houve dupla vitória da chancelaria brasileira visando à abertura do comércio mundial A tática foi a estratégia de um emergente por todos e todos por um.

No Paraná, um passo à frente reivindicado há 15 anos: o corpo de bombeiros já conta com 21 soldadas, quebrando um tabu. Há mais: detentos fazem livros para deficientes visuais serem alfabetizados, uma parceria feliz entre a Receita Federal, a Secretaria de Justiça e a de Segurança Pública. O Fórum Futuro 10, ação conjunta da Rede Paranaense de Comunicação e sociedade representativa, logrou absoluto êxito ao discutir o Estado do dever. Ao dizer que todo resumo é tolo, Montaigne desconsiderou o valor de ações de mérito em meio à cornucópia de indecências. Ao Paraná coube a parcela de acertos. Oxalá sejam eles multiplicados neste 2006 que solta os primeiros vagidos, recompensando a gente paranaense, que merece Boas e Felizes Festas.

Alzeli Bassetti é escritora e poeta.

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