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| Foto: Marcelo Justo/Gazeta do Povo

Um dos grandes pontos de interrogação do Brasil hoje é a próxima eleição presidencial. Ao mesmo tempo em que temos muitos candidatos, não temos candidato algum. Há expectativa quanto à situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há uma confusão enorme naqueles que se intitulam de direita, posição que conceitualmente implica a adoção de propostas econômicas liberais, mas que no Brasil é sempre uma “pílula dourada”, cheia de nuances e gradualismos para que não se afaste este ou aquele bloco de potenciais eleitores.

Não é à toa que a maioria dos profissionais e empresários teme as eleições e, principalmente, o que vem depois.

A “herança maldita” hoje parece mais maldita que em outros períodos recentes. Até mesmo para o atual presidente. Isso porque o período Dilma colocou o Brasil em uma trajetória econômica decadente, que destruiu situações controladas nos 15 anos anteriores ao seu governo. Um bom exemplo é o relativo controle da dívida pública, que dobrou em seu mandato. Concorreram para isso atitudes como as canetadas no setor elétrico para baixar o preço da energia, que comprometeram sensivelmente os investimentos das concessionárias (sem contar a exposição escancarada da fragilidade dos contratos no país). E não esqueçamos da contabilidade criativa de suas famosas pedaladas.

Crescimento econômico sustenta regimes, sejam eles democráticos ou não

Esse período, de triste lembrança, jogou o Brasil na mais profunda e longa recessão da história. Cenário que obviamente exigirá muito do próximo presidente.

Mas por que considero que talvez não devamos ter tanto receio do que vem por aí, apesar das evasivas plataformas econômicas até o momento apresentadas, com raras exceções?

No fórum de economia “Caminhos para um novo Brasil”, realizado na semana passada pela Gazeta do Povo, o economista Ricardo Amorim apresentou estudo traçando uma curva da economia brasileira e dos movimentos políticos que a acompanharam nos últimos 100 anos. Observa-se claramente que a cada transição política, tenha sido democrática ou não, a economia brasileira cresceu acima das expectativas iniciais dos economistas. Isso porque é imperativo ao novo governante estabelecer medidas que ataquem problemas patentes, que revertam situações e que busquem o crescimento, ajudando a manter a posição para a qual foi eleito. Historicamente fica claro que crescimento econômico sustenta regimes, sejam eles democráticos ou não, como foi o caso do governo militar nos anos 70. Como disse o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, quando questionado sobre o que faz o sucesso de um governo: “É a economia, seu estúpido”.

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Obviamente há outras questões ideológicas e de posicionamento, além da economia, a se considerar quando escolhemos um candidato, mas este não é o objetivo dessa reflexão. Apesar de esta crise ter agravantes – como o crescimento demográfico muito menor do que nas décadas anteriores, ao mesmo tempo em que a população está envelhecendo e o rombo da Previdência permanece intocado; ou o fato de a produtividade ser basicamente igual à dos anos 80 –, e apesar das fragilidades e limitações do atual governo, já estamos melhores do que quando a última transição ocorreu, há dois anos.

Devemos voltar nossas atenções para as plataformas de candidatos que efetivamente demonstrem coragem para atacar os problemas críticos. Mas principalmente, como executivos, empresários e profissionais liberais, usar o momento de transição não como uma razão para a paralisia, para o não investimento, mas justamente para enxergar oportunidades de criar valor, aumentar a produtividade, ajustar a gestão, abrir novos mercados.

A despeito de nossas decepções morais com o país, as oportunidades estão no ar, e continuarão chegando. Temos de nos apropriar da responsabilidade de buscar soluções para os nossos problemas, esperando e dependendo menos de cada governo.

Viviane Doelman, especialista em Governança Corporativa pela Fundação Dom Cabral (FDC), é sócia-gerente da 3G Governança, Gestão e Gente.
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