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 | Ricardo Stuckert/Fotos Públicas
| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

As candidaturas para a eleição presidencial de 2018 ainda não estão definidas – há candidatos declarados que podem acabar impedidos pela Justiça, enquanto outros ainda procuram uma legenda que banque sua candidatura, sem falar dos partidos que pretendem lançar um nome, mas ainda não o definiram, e de personalidades que têm ambições presidenciais, mas ainda não definiram se entrarão na disputa. Mas já é possível afirmar que este outubro de 2018 não será marcado tanto pela polarização entre direita e esquerda, mas principalmente pela divisão clara entre os responsáveis e os populistas.

Para além do estrago causado pela corrupção, que sangrou estatais a serviço de um projeto de poder, os últimos anos mostraram as consequências de uma política econômica irresponsável, baseada nos incentivos sem limites ao consumo e no gasto público desmedido: o Estado inchou como nunca antes, a inflação voltou a assustar e o país foi jogado na pior recessão da história, cujos efeitos continuam a ser sentidos, especialmente pelos milhões de desempregados. Para acobertar a situação lastimável das contas públicas, o governo recorreu a truques contábeis e a manobras inconstitucionais que custaram o cargo da presidente Dilma Rousseff e a credibilidade internacional do país. Michel Temer deu início a um processo de recuperação que, se já dá alguns resultados positivos, como a queda da inflação e dos juros, não tem garantia nenhuma de durar no longo prazo – basta ver os déficits primários monstruosos que o Brasil ainda apresenta.

Em 2014, Dilma Rousseff dourou a pílula, enquanto seu adversário fazia o alerta – e a maioria optou pelo populismo

Isso porque, enquanto o arcabouço legal brasileiro, que já contava com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ganha mais instrumentos, como a PEC do Teto, do outro lado a pressão por mais gastos, mais benesses, mais Estado continua à toda, e a maioria dos governantes não consegue resistir a ela – isso quando não a abraça com convicção. Foi assim que alguns estados, como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, chegaram a uma situação dramática, com servidores sem receber salários e sem dinheiro para despesas básicas. E engana-se quem pensa que a calamidade jamais se repetirá em escala nacional – basta lembrar que, sem uma reforma da Previdência, os gastos com aposentadorias e pensões seguirão crescendo além da inflação e do PIB, até um ponto em que começarão a inviabilizar gastos em outras áreas.

Candidatos que tenham a virtude de expor sem rodeios esse quadro e defender as medidas necessárias, mas impopulares para revertê-lo são mais que necessários na situação atual. Só eles podem oferecer um contraponto ao populismo daqueles que prometem reverter decisões acertadas tomadas durante o governo Temer, que negam verdades simples como o déficit previdenciário, que veem no Estado o grande propulsor do desenvolvimento econômico, que apostam em incentivar o consumo em vez do investimento, enfim, que prometem mais do mesmo que foi aplicado anos atrás e que resultou na recessão.

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Mas tais temas não podem se restringir ao discurso dos candidatos à Presidência. Mesmo o brasileiro que acompanha a política apenas superficialmente já percebeu que, sem um Legislativo igualmente responsável, nem mesmo o mais consciente dos presidentes conseguirá colocar o Brasil na rota do crescimento prolongado. As dificuldades para a aprovação da reforma da Previdência mostram que, com um Congresso movido a clientelismo, cargos e benesses, as mudanças não ocorrerão – ou ocorrerão a um custo altíssimo para o país. Candidatos à Câmara e ao Senado também precisam demonstrar seu compromisso com a responsabilidade fiscal para merecer o voto do brasileiro.

Outubro de 2018 não é apenas sobre os candidatos, mas também sobre os eleitores. Em 2014, Dilma Rousseff dourou a pílula, negando haver qualquer problema com a economia e as contas públicas, enquanto seu adversário fazia o alerta – não tão enfático quanto deveria, mas ainda assim um alerta. E a maioria do eleitorado optou pelo populismo. As lições que o país teve de lá para cá foram duras – recessão, inflação, desemprego, falência do setor público em vários estados. Elas foram aprendidas? Algumas pesquisas recentes preocupam, a julgar pelo rechaço à reforma da Previdência e às privatizações; décadas de paternalismo ainda não conseguiram ser revertidas em um povo que enxerga privilégios em vários setores, mas ao mesmo tempo sonha com eles. Que os próximos meses sejam suficientes para que o sentido de responsabilidade se espalhe entre candidatos e eleitores, pelo bem do país.

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