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As maiores inovações tecnológicas deveriam vir na área do som: por exemplo, a invenção do botão "mute" para jogadores, locutores e cronistas esportivos

Depois dos vexames da arbitragem na Copa do Mundo, a Fifa anunciou que vai rever a questão do uso da tecnologia nos jogos de futebol. Realmente, um mínimo de tecnologia moderna de imagem evitaria erros crassos que frustraram países inteiros, pois poucas coisas podem ser mais decepcionantes do que passar quatro anos se preparando para uma Copa, ultrapassar os adversários nas eliminatórias e depois ver o esforço todo jogado no lixo por um erro indesculpável do árbitro e dos bandeiras.

Mesmo antes dos jogos da Argentina e da Alemanha que levantaram a polêmica toda, a tecnologia moderna teria tido um efeito benéfico: deixar a França de fora da Copa, o que teria poupado les bleus do vexame histórico na África do Sul, onde – para culminar – a grosseria de seu técnico com Parreira só fez reforçar a universal e não exatamente injusta impressão de que a França tem uma porcentagem desproporcionalmente alta de mal-humorados crônicos na sua população.

Também, nada de exageros. Tecnologia demais tira a graça do espetáculo, pois reduz a zero a possibilidade da controvérsia e do desacordo a respeito de um jogo: foi pênalti ou não foi? Estava impedido ou não? Desviou com a mão ou o ombro? Supercâmeras lentas estrategicamente situadas não deixam qualquer margem para discussão ao torcedor. Mas como quem decide é o juiz, baseado na tecnologia milenar AZ (A Zoio), abre-se a cada erro todo um campo novo de suspeitas e de teorias conspiratórias a respeito das intenções veladas de suas senhorias, que irão alimentar intermináveis conversas de boteco e programas de crônica esportiva. E aí está uma boa parte da graça toda.

Já que o assunto entrará em discussão na Fifa, acredito que deveríamos ir um pouco mais longe do que o previsto e convocar os poderes da biotecnologia para tornar o nobre esporte bretão mais atraente . Por exemplo, que tal desenvolver um protetor eletrônico do cérebro dos jogadores e treinadores ex-jogadores contra danos causados por cabeçadas? Outro dia, a câmera lenta mostrou o que acontece no momento de uma delas: a bola toda deformada se chocando contra a cabeça de um jogador a dezenas de quilômetros por hora. É impossível que aquilo feito seguidamente ao longo de uma carreira não tenha o mesmo efeito cruel que os socos dos adversários fizeram no cérebro de Muhammad Ali. E aí talvez se entenda por que Ramires lutou como um leão para conseguir uma vaga entre os titulares e, em uma partida ganha, no meio do campo, sem qualquer risco para o time brasileiro, cometa uma falta bisonha e desnecessária e leve um cartão amarelo fatal. Ou então como se justifica escalar um desequilibrado emocional notório como Felipe Melo em uma partida cheia de catimbeiros e de "mujeres muy viejas" como diriam os espanhóis. Só poderia dar no que deu: a expulsão do próprio e o desmantelamento da equipe.

Mas as maiores inovações tecnológicas deveriam vir na área do som: por exemplo, a invenção do botão "mute" para jogadores, locutores e cronistas esportivos. Os telespectadores, via wireless, deveriam poder instantaneamente emudecer aquelas basófias triunfalistas, dos "guerreiros", dos que se impõem pela cara feia, dos "brasileiros que não desistem nunca" e também aquelas análises estatísticas absolutamente insanas do tipo: "O Brasil nunca perdeu quando entrou em campo com a camisa azul, em jogo de quarta de final, com o goleiro jogando com camisa verde" ou outras bobagens do gênero. Não se trata de emudecer todos os locutores e cronistas, pois perderíamos a inteligência de um Falcão, de um Arnaldo Cesar Coelho, de um Nêgo Pessoa, Carneiro Neto ou Airton Cordeiro, por exemplo. Mas de um "mute" seletivo para poupar nossos ouvidos e nossas mentes de tolices.

Uma última invenção seria a criação de um botão "tilt", de desligamento automático: todas as vezes em que pintasse uma dessas controvérsias cretinas ou batalhas entre egos inflados do tipo de "quem é melhor, Pelé ou Maradona?", o botão "tilt" seria automaticamente acionado e o assunto jogado diretamente na lixeira.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR e um dos 190 milhões de técnicos de futebol existentes no Brasil.

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