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O casamento entre inovação tecnológica e sustentabilidade ainda é uma aspiração para os ambientalistas. A evolução da tecnologia, aliada à preservação do meio ambiente, já apresenta alguns avanços. Em pequena escala, é verdade, mas certas ações ecologicamente viáveis merecem destaque em um cenário que ainda está em desenvolvimento.

Uma dessas ações, lançada tempos atrás em Curitiba, é a implantação de 13 veículos elétricos como parte da frota oficial da prefeitura de Curitiba, dentro do projeto Eco-Elétrico, uma parceria entre a prefeitura, a fabricante de veículos Renault e a Itaipu Binacional, com intuito de melhorar a mobilidade urbana e reduzir a poluição. Apesar de serem poucos veículos, Curitiba é a cidade brasileira com maior número de carros oficiais movidos a eletricidade do país.

A vantagem dos carros elétricos é, principalmente, a redução do impacto ambiental causado pela emissão de gás carbônico na atmosfera, mas a economia gerada pela troca do combustível (neste caso, a gasolina) pela energia elétrica é considerável. Um carro a gasolina com consumo médio de 1 litro a cada 10 quilômetros gasta R$ 3 para percorrer essa distância. Um carro elétrico necessita de 1 kW/hora para fazer o mesmo percurso, equivalente a R$ 0,39 de custo de energia, com uma economia de 87%. Em contraponto, a desvantagem é o custo desses veículos, que ainda não é acessível ao consumidor final devido às altas taxas tributárias.

A questão que me intriga é: por que o Brasil não investe em carros elétricos, ou ao menos viabiliza a redução dos impostos para o aumento no mercado brasileiro? Pois, enquanto o mundo segue em frente com os carros elétricos, com uma frota estimada em 500 mil unidades, o Brasil ainda está na contramão desses números. O governo segue na morosidade em definir uma política para reduzir a enorme carga fiscal sobre os tipos híbridos e os inteiramente elétricos. Atualmente, o veículo elétrico tem um acréscimo de cerca de 85% no valor original apenas em impostos. Nessas condições, o elétrico ainda está longe dos sonhos do consumidor brasileiro.

Além das altas taxas tributárias, outro ponto que inviabiliza a introdução do carro elétrico no mercado brasileiro é a falta de investimento, por parte do governo, em outras fontes de fornecimento de energia além das hidrelétricas – que, atualmente, passam por séria crise de abastecimento devido à estiagem. Uma grande frota de carros elétricos operando no Brasil rapidamente iria sobrecarregar as hidrelétricas, que necessitariam aumentar a produção, queimando ainda mais combustíveis fósseis altamente poluentes, como óleo, gás natural ou carvão, para gerar energia. Nessa equação, o impacto que os carros elétricos iriam causar em nosso meio ambiente seria inversamente proporcional ao esperado, sendo igual ou pior que utilizando os carros movidos a combustível.

Para ser realmente sustentável, o uso dos carros elétricos no Brasil deveria ser precedido de um grande investimento em fontes renováveis de energia, produzidas de forma limpa, como energia eólica, solar e geotérmica, das quais o Brasil possui enorme potencial de fornecimento, mas que não explora de forma suficiente. Há tempos especialistas alertam que não se deve depender apenas de uma fonte de produção de energia, pois esta dependência pode afetar o abastecimento e, ainda, mexer no bolso do consumidor e no ambiente. Segundo levantamento feito por ONGs que acompanham o setor energético, o Brasil tem capacidade solar para atender a 10% da sua demanda atual de luz. Já no caso da eólica, o potencial inexplorado corresponde a quase o triplo da capacidade atual.

Curiosamente, nosso país é o quinto que mais investiu em energias limpas, totalizando a soma de US$ 7 bilhões, mas não foca seus investimentos em energias eólica e solar, tão buscadas por outros países. Mesmo assim, a meta fixada pelo governo brasileiro é de que 75% da produção de energia em 2030 seja proveniente de fontes renováveis. Se o país quiser mesmo chegar a essa marca em tão pouco tempo, a solução seria, além de vontade administrativa e investimento, um mapeamento das suas fontes renováveis em cada região geográfica para, então, escolher os recursos mais abundantes em cada área e o com melhor custo-benefício para cada região. Dessa forma, além de poupar o meio ambiente, o país não dependeria de apenas uma fonte energética, o valor real da energia seria menor e a indústria poderia investir em novas tecnologias. Mas, nas atuais condições, isso ainda está longe dos sonhos do consumidor brasileiro.

Rodrigo Berté, PhD em Educação e Ciências Ambientais, é professor do Centro Universitário Internacional Uninter.

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