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Passei minha juventude impressionado com os projetos do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) para mudar o clima do Nordeste Brasileiro e fazer chover no semi-árido. Via como incrível a busca de meios para fazer as nuvens formadas no mar subir além das montanhas.

Nestes meses passados, coletando informações sobre o problema, vislumbrei, por que não levar na forma líquida, um tipo de água abundante e eterna, a água do mar? Temi ser um sonho de loucos e troquei informações com poucos pesquisadores na esperança de montar modelos para testar o projeto.

Curiosamente, quando li relatórios do governo norte-americano, deparei-me com um projeto da Universidade da Nova Hampshire que quer construir tanques de algas para produção de biodiesel. O projeto ocuparia 400 mil hectares, 12,5% da área do deserto de Sonora, e custaria US$ 46 bilhões para produzir 140 bilhões de galões de óleo (não-refinado) de biodiesel. E ainda assim, custaria menos que os US$ 150 bilhões que os Estados Unidos gastam anualmente em petróleo importado.

O que trato com reserva, os norte-americanos vêem como negócio. O que vislumbrei como ocupar uma área morta, construir lagoas impermeabilizadas cuja única finalidade seria prover água para ser evaporada e umedecer o ar seco. Produzir peixes e algas marinhas poderia ser uma atividade secundária.

Talvez possa ser a principal. O importante é ocupar a terra nua com algo que transforme luz e CO2 em biomassa.

Em consultas aos sites da Embrapa, pude encontrar diversos projetos que podem ser adaptados. Diversas universidades brasileiras estudam e desenvolvem destiladores solares. O Centro Federal de Ensino Tecnológico do Rio Grande do Norte (Cefet-RN) desenvolve um projeto de dessalinização por membrana de baixo custo.

Mas, o mais interessante são os projetos de uso de erva-sal (Atriplex nummularia) trazida para o Brasil na década de 1930. Essa planta tem uma característica maravilhosa, ela retira o sal da terra. Isso permite usar a água salobra do Nordeste para irrigação. Além de ser uma planta forrageira, ou seja, alimento para o gado.

Então, vislumbrei algo que pode ser interessante. Será que não se poderia usar técnicas de hidroponia com a erva-sal para retirar o sal da água?

Procurei na Plataforma Lattes (todo o conhecimento brasileiro está aí) pesquisadores que tivessem trabalhado com o Atriplex e com hidroponia. São poucos, mas existem, e nunca se fez alguma experiência desse tipo. Está aí a sugestão.

Podemos ainda pensar em transgenia, imaginem se retirarmos o gene que faz a erva-sal absorver sal e transplantá-lo em aguapés. Com essa planta fantástica, que cresce assustadoramente, poderíamos dessalinizar quanta água do mar quiséssemos.

E diante de tanta biomassa, nada melhor que levantar o velho de guerra, ou da guerra, o gasogênio. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, em 1979, mostrou que o investimento em um caminhão a gasogênio fica quase 30% mais barato que um a diesel e o custo por quilômetro, usando madeira como fonte de gasogênio, ficaria 50% mais barato. Imaginem quanto ficaria usando os 65 bilhões de toneladas de palha de cana que são queimadas em toda safra. E ainda podemos usar o gasogênio para gerar hidrogênio.

Voltemos ao CTA, mais precisamente ao Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e ao engenheiro Takeshi Imai, que detém a tecnologia de semear chuvas. O método resume-se em, utilizando um avião, borrifar água potável nas nuvens, isso provoca um acúmulo de líquido na atmosfera e, conseqüentemente, chuva.

Todo o conhecimento desenvolvido no CTA, com recursos públicos, precisa ser aproveitado e muito. Com o aquecimento global, as chuvas intensas serão cada vez mais constantes, destruindo plantações e causando danos enormes nas cidades. Fazer chover na quantidade certa, "desarmar" as nuvens tornar-se-á uma necessidade e dominar essa técnica uma vantagem global.

Enfim, muito conhecimento nacional está aí, esperando para ser aproveitado comercialmente, antes que os negociantes americanos contratem nossos cientistas e desenvolvam os "royalties" nos Estados Unidos.

Mario Eugenio Saturno é pesquisador tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e professor do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva (SP). mariosaturno@uol.com.br

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