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Desde 1º de abril, espanhóis que chegam ao Brasil são tratados com a mesma arrogância e insensibilidade com que os brasileiros que caem na besteira de desembarcar em um aeroporto ou porto espanhol são recebidos. E embora poucos indivíduos no mundo possam ser mais truculentos do que um burocrata espanhol investido de autoridade, a burocracia brasileira não fica atrás e, assim, logo, logo, os pobres turistas d’Além-mar experimentarão a expertise brasileira na área.

"A Espanha está triste", declarou seu embaixador, talvez esquecendo convenientemente que nos últimos quatro anos também há muita gente triste deste lado do mundo, depois de ter sido "rechazada" e expulsa no primeiro avião partindo de Madri ou Barcelona. O governo brasileiro teve até muita paciência ao esperar tanto tempo para estabelecer uma regra de reciprocidade nessa questão dos estrangeiros que chegam ao país. O argumento de que se procura barrar a imigração ilegal não se sustenta, pois são inúmeros os casos de estudantes de pós-graduação, profissionais liberais solidamente estabelecidos no Brasil ou de simples turistas que tiveram sua entrada recusada nos portos espanhóis, mesmo quando não tinham qualquer intenção de permanecer no país. Cometeram, apenas, o engano de aproveitar uma promoção de passagens aéreas mais baratas para escolher seu ponto de entrada na Europa.

Quando eu era adolescente, o Rio de Janeiro estava povoado de imigrantes europeus. Além dos indefectíveis portugueses, havia os italianos que vinham aos magotes e legiões de espanhóis trabalhando em bares e restaurantes (apesar de muitos deles terem se declarado agricultores para conseguir um visto brasileiro), por exemplo. E, é claro, alemães, poloneses, japoneses, russos... Tentavam fugir das misérias do pós-2ª. Guerra Mundial, da falta de empregos, de oportunidades, de comida na mesa e vieram buscá-los no Brasil. E devolveram com juros a hospitalidade que receberam, contribuindo como poucos para transformar este país de um lugar atrasado na sexta maior economia do planeta.

Depois, muitos de seus países de origem enriqueceram e, rapidamente, os brasileiros começaram a sentir a diferença: policiais da imigração de diversos países europeus torciam o nariz para viajantes brasileiros que tivessem uma mínima semelhança com um imigrante. A Espanha não ficou atrás e aperfeiçoou o método da truculência nas fronteiras con mucho gusto.

É pena, mas não sei quem deve lamentar mais a situação atual: os brasileiros que são bem-vindos em muitos outros países da Europa, doidos para ficar com uma lasquinha da recém-adquirida afluência dos brasucas ou os espanhóis que amargam um desemprego de mais de vinte por cento da população adulta?

Há enormes oportunidades para profissionais talentosos e trabalhadores no Brasil de hoje, enquanto que essas mesmas oportunidades escassearam ou simplesmente desapareceram em uma Europa em crise. Os novos-ricos de cá gostariam de continuar amigos dos novos-pobres de lá, mas , como diz o ditado, não se pega mosca com vinagre.

Um pouco de vinagre do lado de cá do mundo deve ser o suficiente para fazer o governo espanhol provar o gosto de sua própria truculência. E servir como lição para outros arrogantes de qualquer lugar do mundo.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUC PR.

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