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O Dia Internacional da Mulher, instituído pela ONU em 8 de março de 1975, representa um convite à reflexão sobre as condições de vida e cidadania das mulheres na sociedade contemporânea. Esta data representa a luta das mulheres por igualdade de direitos e justiça social, revivendo situações de opressão que marcaram a história do feminismo. Foram 129 mulheres queimadas vivas em Nova York por buscarem melhores condições de trabalho, em 8 de março de 1827. Esse episódio impulsionou várias lutas sociais, que foram travadas na tentativa de garantir que diferentes setores pudessem modificar o papel secundário atribuído à mulher ao longo da história.

Percebe-se que são vários os avanços conquistados pelo Movimento de Mulheres. Mas isso não significa que as antigas reivindicações fazem parte apenas do passado. O que dizer a respeito da liberdade reprodutiva, da paridade em termos de representação política e da conquista do mercado de trabalho? Certamente, algumas bandeiras levantadas pelo feminismo no Brasil, no final dos anos 1970, já foram superadas. Contudo, é lamentável encontrar resquícios de uma relação desigual entre os sexos nas esferas política, econômica, doméstica, entre outras.

Basta observar alguns indicadores para se perceber questões de gênero implícitas nas práticas sociais, confirmando certas desigualdades. Apesar dos indícios bastante positivos das mulheres conquistando cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho, como explicar o fato de as mulheres apresentarem maior grau de instrução, e ganharem quase metade do que os homens? E os trabalhos domésticos e mal remunerados serem os principais espaços de atuação da mulher?

No campo político, esta desigualdade também se esboça com irritante naturalidade. Só para citar um exemplo, a bancada feminina da Câmara dos Deputados, eleita para a legislatura de 2007–2011, tem 46 deputadas dos diferentes partidos, o que representa cerca de 9% do total. Considerando-se que as mulheres são mais de 50% da sociedade, isso significa que elas continuam sub-representadas no poder legislativo.

Em relação à violência contra a mulher – que já era uma temática do movimento feminista dos anos 80, quando surgem as delegacias de mulheres –, as estatísticas continuam a aumentar. Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo mostrou que se tem 2,1 milhões de mulheres espancadas por ano no Brasil. Isso significa uma mulher espancada a cada 15 segundos! Diante disso, pode-se dizer que o respeito à dignidade das mulheres ainda não foi consolidado, apesar de alguns avanços como a implantação da Lei Maria da Penha, que veio contribuir para reduzir a impunidade dos agressores.

A resposta para estes indícios de opressão está no preconceito, resultante de um imaginário coletivo que sistematicamente inferiorizou a participação feminina, reproduzindo a desigualdade em termos sociais, políticos e econômicos. Ainda há muito o que percorrer para que as mulheres conquistem uma efetiva autonomia e igualdade de direitos e de oportunidades em relação aos homens. Mas, ao mesmo tempo, também é preciso registrar conquistas em relação à cidadania das mulheres em diferentes campos, trazendo motivos para comemorar.

Portanto, o Dia Internacional da Mulher constitui uma oportunidade para reagir ao silenciamento das mulheres e reconhecer as lutas e conquistas de figuras anônimas, vítimas de uma sociedade em que o preconceito e a desigualdade permanecem como heranças de um pensamento secular, que insiste em tomar como consensual a desigualdade entre os sexos.

Karina Janz Woitowicz é professora de Jornalismo da UEPG e pesquisadora do Instituto de Estudos de Gênero da UFSC.

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