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Tem sido difundida a crença de que a educação não é atraente para os jovens brasileiros, sobretudo nos níveis fundamental e médio. Aceitando a afirmação como verdadeira, resta perguntar: por quê?

Há alguns consensos sobre a educação, dos quais destacam-se quatro: a) o ensino é de má qualidade; b) a escola não é atraente; c) a escolaridade média do brasileiro é baixa; d) a educação é a única saída para o atraso do país, logo, deve ser prioridade.

A educação brasileira padece de alguns males crônicos. Um deles é a insistência em ensinar conteúdos dissociados do interesse prático da vida, enquanto assuntos importantes são literalmente esquecidos. Um exemplo é fazer os alunos decorarem um amontoado de nomes e datas que não têm a menor relevância para o cotidiano, como os nomes dos navios que compunham a esquadra do descobridor da América, Cristóvão Colombo, e deixar de ensinar noções de comércio, finanças, tributos e contratos, que são assuntos dos quais ninguém escapa.

Ao não perceber a conexão entre o que a escola ensina e os atos da vida real, o aluno começa a desinteressar-se e a conseqüência é, obviamente, baixa aprendizagem. A meu ver, esse problema constitui-se em um dos maiores dramas na questão da atratividade da educação. Outro aspecto é que, quando o estudante desinteressa-se por uma parte dos conteúdos ensinados, há certa tendência em que ele venha a perder interesse também sobre os conteúdos que, a princípio, lhe pareçam atraentes e importantes. Dizendo de outra forma: ao perder empolgação por uma parte do ensino, o aluno reduz o interesse pela escola como um todo.

Outro ponto que merece reflexão é o fato de a educação não se apresentar como garantia de uma vida melhor. No ensino superior, esse ponto está constatado nas pesquisas educacionais. Há algumas décadas, o diploma universitário era passaporte certo para crescimento profissional e para a melhoria das condições de vida. Hoje não é mais, gerando decepção e desalento.

Em outra ótica do problema, há algo que chama a atenção: no processo educacional para dois lados, o sujeito (aluno) e o objeto (ensino). Parte da falta de atração na educação está no objeto (o ensino). Mas é preciso perguntar: e os problemas com o sujeito (o aluno)? São conhecidas as deficiências no ensino, na metodologia e na escola. Porém, poucos são os estudos profundos que nos informem o que está acontecendo com as crianças e com os jovens. Uma análise que merece ser consultada e examinada está no livro "Homo Videns – Televisão e Pós-Pensamento", do pensador italiano Giovanni Sartori.

Para esse autor, o mundo está se apoiando nos ombros da "geração televisiva", uma espécie recentíssima de ser humano criado pela televisão antes mesmo de saber ler e escrever. Ele diz que esse homo videns, que se apóia na imagem e na atitude passiva de "ver" antes de ler e escrever, vem substituindo o homo sapiens, que foi desenvolvido pela capacidade de pensar, entender, comparar conceitos, concluir e se expressar.

A análise de Giovanni Sartori não é capaz de esclarecer por que a educação não é atrativa e não responde por completo o que está acontecendo com o sujeito (o aluno). Mas é, seguramente, um bom ponto de partida para a compreensão de que o ensino não é atraente em função de problemas que estão no objeto (a escola), mas também em função de problemas que estão no sujeito (o aluno).

José Pio Martins é professor de economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo (UnicenP).

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