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A secular missão das universidades, das academias e das escolas sempre foi e será o conhecimento. Sua matéria-prima, a inteligência. Seu método, a sanidade. Não é por acaso que a etimologia do termo universidade – do latim universitas-tatis – nos remete ao conceito da universalidade, do universo, da totalidade. Portanto, a liberdade do estudo, da reflexão, do debate, do contraditório e da busca constante das "verdades universais" é sua premissa básica. Sua principal disciplina é o homem e suas relações recíprocas com a natureza, com as artes e com o próprio Universo. Por isso, a universidade é uma instituição longeva, imorredoura, resistente. Não negocia com a insanidade. Aliás, até a estuda e a tolera.

É evidente que a universidade não tem a pretensão de ser a única detentora do saber, como um templário sagrado que se fecha em seus dogmas. Pelo contrário, acolhe doutrinas, correntes, postulados, e talvez nunca, como nos dias atuais, tenha se revelado tão simbiótica, humilde e parceira de tantas outras fontes destas "verdades", se é que elas existem. Portanto, o mínimo que dela se espera é que seja um fórum democrático, aberto para que seu espaço seja palco de sua vocação.

Christopher Flavin, presidente do World Watch Institute (WWI), pertence a essa comunidade que tem uma percepção aberta de mundo. Como cidadão universal, é estudioso do aquecimento global, da gestão da energia e do desenvolvimento sustentável. Tão admirado pelas diferentes matizes ideológicas que, um pouco antes de sua conferência em Curitiba, na semana passada, esteve reunido com a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, e com o governador de São Paulo, José Serra. Tão bem reconhecido e respeitado mundialmente, que, logo após a sua fala em nossa cidade, pegou o primeiro vôo para a Alemanha a fim de realizar um debate especial com os presidentes do G8, o grupo dos países mais ricos do mundo, que então discutia como frear o aquecimento global.

Mas parece que aqui no Paraná Flavin e seu discurso não tinham muito a agregar para parte da platéia que foi ouvi-lo na Estação-Ibmec, instituição de ensino organizadora do encontro eminentemente técnico, científico, neutro, apolítico. Mesmo interessada, parte da platéia cedeu ao terror da intimidação e do medo. E se retirou, lamentando.

A constrangedora dispersão, aliás, integrada por técnicos diretamente interessados no assunto, não foi acintosa somente ao notável pensador que a eles se dirigia, mas uma cristalina agressão aos princípios democráticos de uma instituição de ensino que, por ser apartidária politicamente, fez deste episódio mais um estímulo para não ceder jamais a qualquer espécie de truculência ou opressão.

A descortesia e, mais do que isto, a perda de uma oportunidade ímpar dessa parte da audiência foram lamentáveis. Soou como um paroquialismo inimaginável diante da magnitude do debate. Infelizmente não foi essa a primeira nem será a última vez que a academia é desrespeitada. No entanto, ela sempre resiste, até porque, no dizer de Shakespeare, "é de estirpe muito nobre para ser subalterna de qualquer autoridade".

Judas Tadeu Grassi Mendes e Manoel Knopfholz são professores e diretores da Estação-Ibmec.

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