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O que aconteceu na boate Pulse – frequentada pelo público gay, em Orlando (EUA) – na madrugada do último domingo foi o maior assassinato em massa nos Estados Unidos desde o atentado de 11 de setembro de 2001, deixando 49 pessoas mortas, mais o atirador. Seria um atentado terrorista? O grupo extremista Estado Islâmico assumiu a autoria do ataque, mas não há um elo claro entre o atirador e o grupo, apenas registro de afirmação de sua lealdade à organização extremista.

Segundo a ex-esposa, o atirador sofria de bipolaridade e era violento. O pai afirmou que o filho “ficava nervoso quando via homens se beijando”. Surgem notícias de que o assassino frequentava a boate onde houve o massacre e que utilizava aplicativos de cunho gay. Estaríamos diante de um caso grave de homofobia internalizada, ou puramente homofobia?

Há indícios de que o autor do massacre teria sido influenciado por conteúdos islâmicos fundamentalistas em circulação na internet. É sabido que a tradição islâmica condena e pune atos homossexuais em mais de 70 países, principalmente no Oriente Médio e na África, sendo que a punição pode até ser a pena de morte em sete deles. O atirador teria matado os frequentadores de uma boate gay numa tentativa de “fazer justiça” com as próprias mãos?

O extremismo e o discurso do ódio irracional cegam as pessoas

O massacre em Orlando foi um acontecimento cuja dimensão tem provocado perplexidade e manifestações de solidariedade no mundo inteiro, a exemplo da vigília realizada na noite de segunda-feira na frente do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná. No entanto, a matança de homossexuais no Brasil ocorre em escala maior, só que de forma insidiosa. Até agora, no ano de 2016, já foram registrados 133 homicídios de pessoas LGBT, por motivos relacionados especificamente à sua condição sexual. Foram 319 em 2015. Todos os anos a média de assassinatos de pessoas LGBT no Brasil está acima da casa dos 300, mas isso não mobiliza a opinião pública como fez o assassinato em massa ocorrido no domingo. É assimilado como parte do quadro geral de violência e assassinatos que assola o país e se tornou banalizado.

O extremismo e o discurso do ódio irracional cegam as pessoas. Seu alvo poderia ter sido judeus, negros, evangélicos, católicos... Nesse caso, foram gays. A história tem demonstrado repetidas vezes que a intolerância, o fundamentalismo, o fanatismo e o extremismo são maléficos para a humanidade e resultam em barbárie. Basta ver o Holocausto.

A humanidade tem conhecimentos acumulados suficientes para que os conflitos possam ser resolvidos na base da diplomacia e das negociações. A racionalidade e a capacidade de conviver bem com o outro devem ser ensinadas desde a tenra idade. Temos de discutir mais o etnocentrismo – afinal de contas, o “meu” grupo, a “minha” nação não é melhor que o outro. É apenas diferente. Temos de nos aprofundar mais na interculturalidade e na alteridade, na nossa relação de interação e interdependência com o outro.

Não podemos permitir que atos bárbaros como este diminuam nossa determinação em lutar por um mundo em que as diferenças sejam respeitadas. Temos de fazer a denúncia constante dessas injustiças. Anteontem foram os palestinos e judeus, ontem foram os gays, amanhã pode ser você.

Toni Reis, pós-doutorando em Educação, é diretor-executivo do Grupo Dignidade e secretário de Educação da ABGLT.
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