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Nas últimas semanas, a maioria dos grandes veículos de comunicação do país tem bombardeado seu público com uma série de pesquisas sobre os problemas e preocupações da população. Essa é uma prática que se repete a cada dois anos, sempre em período eleitoral. De uma maneira geral, os problemas apontados pela população são praticamente os mesmos há alguns anos: a péssima qualidade do ensino público, o atendimento de saúde cada vez mais precário, a escalada da violência em todas as regiões do país e, eventualmente, o desemprego, quando o momento econômico é ruim. Mas, se sabemos quais são os problemas e os apontamos em todas as pesquisas realizadas, qual a razão para que nada seja feito para melhorar a qualidade de vida das pessoas?

O modelo de jornalismo adotado no país e, consequentemente, ensinado em todas as escolas de Comunicação é, em nossa opinião, uma das razões para que os governantes simplesmente ignorem as principais reivindicações da população assim que são eleitos. Os meios continuam sendo os transmissores da informação para o público receptor, sem nenhum (ou com muito pouco) envolvimento com as comunidades para a solução de problemas coletivos. Ou seja, a tão propalada interatividade simplesmente inexiste. Vemos, em alguns casos, um envolvimento inicial dos meios, mas de maneira pontual. Episódios violentos geram uma reação muito forte em um primeiro momento, mas logo caem no esquecimento, até um novo acontecimento, e assim por diante.

A violência no futebol é um exemplo concreto: um dos líderes da invasão ao estádio do Coritiba em 2009 estava, outro dia, na porta do Centro de Treinamento do clube liderando o coro que pedia a cabeça do treinador Celso Roth. E a maioria dos integrantes da torcida do Atlético que participou da batalha campal em Joinville no fim do ano passado certamente estava na reabertura da Baixada.

Os meios de comunicação, de uma maneira geral, poderiam liderar campanhas permanentes para, por exemplo, pedir o fim da violência nos estádios, acabar com a situação precária do sistema público de saúde e pedir a melhoria no ensino público, entre outros problemas.

As novas tecnologias permitem que o receptor também se transforme em emissor constante de informação, desde que estimulado para isso. Hoje, o máximo que ele consegue é divulgar imagens quando capta um momento espetacular com um dispositivo móvel.

Vejo nas escolas de Comunicação o espaço perfeito para a discussão e aplicação desse novo modelo de jornalismo. O Civic Journalism, que aqui teria o nome de Jornalismo Público, é um exemplo. Surgiu na década de 90, nos Estados Unidos, com o objetivo claro de resgatar a confiança da população nos meios de comunicação. O principal objetivo do Jornalismo Público é a informação voltada para o interesse do cidadão: trazer para ele informação que ajude a mudar sua vida, fazer com que ele se sinta parte do processo de transformação, por mais simples que seja, como a revitalização de uma praça, por exemplo. Quanto maior a conquista, mais importante o cidadão vai se sentir. Como consequência, haverá maior credibilidade dos meios junto à população.

Luiz Paulo Maia, doutor em Comunicação e Semiótica, é professor do Departamento de Comunicação da UFPR. Este texto integra série especial sobre os 50 anos do curso de Jornalismo da UFPR.

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