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Na quarta-feira da semana passada, o corpo do garoto palestino Mohammad Abu Khder, 16 anos, foi encontrado em uma floresta na periferia de Jerusalém. Após violentamente agredido, o menino Mohammad foi queimado vivo. Os autores: colonos extremistas judeus, num ato de vingança contra o sequestro e morte de três outros jovens colonos judeus.

O relato dessa sequência terrível de fatos, que, para horror de todos, mais uma vez, mancha de sangue a Terra Santa, faz-nos solidários a pais, parentes e amigos dos quatro adolescentes. Contudo, num plano histórico e político, pouco contribui para o entendimento do que ocorre na Palestina. Todo fenômeno tem uma origem e a causa da tragédia que se abate há cerca de 60 anos sobre a Palestina está no constante desrespeito aos direitos da população árabe do território.

Nas décadas de 1920 e 1930, teve início a imigração massiva de judeus europeus para a Palestina, então habitada havia milhares de anos por árabes. A constituição de fundos para "comprar" propriedades de agricultores palestinos – uma mal disfarçada política de grilagem de áreas – não surtiu o efeito desejado, pois os camponeses que ali viviam se negavam a vender suas terras.

Então, a partir das décadas de 1920 e 1930, para afugentar a população palestina e abrir espaço vital, foram criadas células terroristas judaicas, das quais as mais ativas foram a Irgun, Palmach, Lohamei Herut Israel (Lehi), Haganah e a gangue Stern. Atualmente, autoridades israelenses e seus representantes, veementes na condenação do terrorismo palestino, tentam esconder para debaixo do tapete da história o terrorismo que contribuiu para a criação do seu próprio país. Ataques armados a aldeias palestinas, assassinatos de civis, atentados a bomba – como o do Hotel King David, em 22 de julho de 1946 –, a destruição de plantações e o bloqueio do acesso à água foram algumas ações do terrorismo judaico contra os palestinos, nas décadas de 1930 e 1940.

O terrorismo desses grupos foi incorporado como política de Estado por Israel. Assim, vemos, hoje em dia, a continuidade da ocupação e a colonização sistemática de terras palestinas. Enquanto o governo israelense mantém o discurso de paz, apontando o dedo acusador contra a Autoridade Palestina, faz vistas grossas à ação dos colonos que constroem, ao arrepio da lei internacional, condomínios em território palestino ocupado militarmente. Dia a dia, casa a casa, colonos judeus armados invadem residências palestinas, expulsam os habitantes e as ocupam, num processo lento de expansão territorial. Estradas exclusivas servem aos israelenses; checkpoints dificultam o acesso dos palestinos ao atendimento médico, à escola e ao trabalho; a construção de um imenso muro de concreto destrói mesquitas, separa vilas, propriedades e famílias palestinas, anexando mais território árabe a Israel.

A dois pesos equivalem, logicamente, duas medidas. O erro está em se conferir duas medidas a um mesmo peso. A isso damos um nome: hipocrisia. Violência e terrorismo não podem ser aceitos, em qualquer circunstância, venham de que lado vierem.

A carta está com Israel: renunciar ao terrorismo de Estado, cessar a ocupação e colonização de terras palestinas, reconhecer o direito palestino à autodeterminação, ao regresso e retornar às fronteiras reconhecidas internacionalmente. Iniciativas que, certamente, deixarão radicais de ambos os lados sem bandeira e pavimentarão o caminho para uma paz justa e duradoura na região.

Omar Nasser Filho, jornalista e economista, é mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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