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É impossível planejar o futuro do Brasil sem considerar a diminuição das desigualdades nas condições de vida da população, uma relevante inserção internacional do nosso país e a garantia da sustentabilidade. Mas esses três objetivos estratégicos só podem ser atingidos se tivermos a coragem de priorizar alguns poucos pontos da nossa extensa agenda.

No nosso entendimento são cinco as questões essenciais dessa agenda estratégica: educação, inovação, infraestrutura, macroeconomia e gestão pública.

A educação ainda apresenta um problema grave de qualidade e de baixos níveis de escolaridade no ensino médio e superior. Temos deficiência na formação de professores e só recentemente criamos metas para o futuro. Nosso sistema é ineficiente e o ensino profissionalizante é quantitativamente insignificante para as necessidades do país. O perfil dos egressos do ensino superior é desvinculado das necessidades da sociedade e do mercado. Basta citar que apenas 5% dos graduados estudaram engenharia e menos de 10% algum curso na área de ciências exatas, metade dos porcentuais dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Nossos problemas não são apenas problemas de recursos, embora esses também existam. Nossas escolas não têm estímulos para dar um salto de qualidade e por isso devemos instituir premiações aos esforços de melhoria de cada escola, de cada professor e de cada diretor ao mesmo tempo que cobramos resultados.

Do avanço da inovação nas empresas depende o au­­mento da produtividade e da competitividade sistê­­mica da economia. Se não agregarmos valor às ex­­­­por­­tações será difícil sustentar o crescimento. E isso depende do aperfeiçoamento dos mar­­­­cos regulatórios e do ambiente de negócios, do es­­­­tímulo ao empreendedorismo, de uma maior ên­­fase na formação em engenharia e mais recursos para as empresas investirem em tecnologia. Depende, tam­­­­bém, de uma melhor articulação das entidades go­­­­vernamentais no fomento à inovação nas empresas e das políticas comerciais, tecnológicas e industriais.

Dos investimentos em infraestrutura depende a redução de custos e uma maior eficiência da produção. Os transportes de massa, aeroportos, portos, estradas, ferrovias e hidrovias, o saneamento e a habitação e a energia ainda apresentam gargalos e déficits gigantescos, apesar do aumento recente dos investimentos públicos. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tem o mérito de organizar e dar visibilidade aos projetos, embora apresente inúmeras dificuldades para cumprir as metas estabelecidas.

O olhar para a macroeconomia revela que estamos crescendo a taxas elevadas movidos pelas exportações de commodities e pelo mercado interno. A melhoria da distribuição de renda, as políticas de inclusão social e o crescimento do emprego e do salário real estão impulsionando o consumo das famílias. O crédito alavanca ainda mais esse crescimento. É um processo saudável, em que se amplia o mercado interno e melhora-se a vida de milhões de brasileiros.

Mas, para consolidar essa tendência, precisamos de uma macroeconomia decente. Temos os mais elevados juros reais do mundo, a carga tributária mais alta entre os países em desenvolvimento, um câmbio valorizado e uma política fiscal frouxa, apesar dos superávits primários. Precisamos de uma macroeconomia de estímulo ao investimento produtivo e às exportações.

No entanto, será difícil avançar em todas essas questões sem uma melhoria significativa da gestão pública. Novamente, o problema não é apenas de recursos, mas da necessidade de novos marcos regulatórios, maior profissionalismo e capacitação dos servidores, menos politização da gestão pública, maior comprometimento com resultados e maior ênfase em parcerias público-privadas, como faz o resto do mundo.

Acredito que estamos dando passos positivos em direção a um futuro mais promissor. Mas temos uma agenda repleta de desafios. O crucial é entendermos que esse futuro depende de admitirmos nossas fraquezas e de encontrarmos soluções para superá-las. O primeiro passo para isso é termos diagnósticos realistas. O segundo, ainda mais decisivo, é encontrarmos a coragem de ousar e enfrentar os grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento.

Rodrigo da Rocha Loures, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República

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