• Carregando...

Nos dias 3 a 5 de setembro, na cidade de Bue­nos Aires, Argentina, ocorreu o II Congresso Latino Americano de Educação Diferen­­ciada, sob o título "Novos cenários para a educação de mulheres e de homens". Participaram do evento mais de 200 educadores de 15 países. Tive a honra de representar o Brasil, junto com mais sete professores: três de Curitiba, três de São Paulo e um de Campinas.

Infelizmente, ficou evidenciado nesse Congresso que essa nova alternativa educacional ainda está engatinhando no nosso país. Segundo um estudo realizado pela EASSE (European Association of Single-Sex Education), existe atualmente no mundo, de acordo com dados obtidos de 70 nações, 210 mil escolas de educação diferenciada por gênero com 40 milhões de alunos. Esse estudo fez questão de ressaltar que faltaram dados de países de tamanho continental como Índia, China, Brasil e de outros do continente asiático e africano nos quais a educação diferenciada tem uma longa tradição.

A Educação diferenciada por gênero, longe de estar ligada a uma época, a uma ideologia ou a um tipo de escolas, está crescendo com força em âmbitos, países, culturas e realidades políticas muito diferentes, mas especialmente nos países mais avançados, como Estados Unidos, Inglaterra, França, Aus­­trália, Alemanha, Canadá, entre outros. Na América do Sul, o país mais avançado nessa modalidade educativa é o Chile, onde a imensa maioria das escolas públicas já é diferenciada. Mas, afinal, o que é a educação diferenciada?

A Educação diferenciada é uma opção que se adapta a todo o tipo de entorno social e às mais variadas necessidades educacionais: escolas de um só sexo; colégios mistos com salas de aula diferenciadas, separando em todas ou apenas em algumas disciplinas, ou ainda somente em alguns anos do processo educacional.

Um dos maiores especialistas da atualidade nesse assunto, o espanhol Jaume Camps, assessor da EASSE, em uma das suas conferências do Congresso, elucidou o porquê de em tantos países ainda existir certo preconceito para essa alternativa de ensino. Segundo ele, a educação diferenciada nasceu de uma sociedade marcantemente machista, na qual o papel social do homem se caracterizava por buscar recursos econômicos e o da mulher, pelo cuidado da casa e da educação dos filhos. Os projetos pedagógicos das escolas da época, tentando adaptar-se a essas necessidades, ofereciam uma educação diferenciada, mas injusta. A educação diferenciada, nessa altura, era, de fato, uma educação segregadora, privilegiando muito mais o homem. Com a justa reação feminista dos anos 60, buscou-se lutar contra esta discriminação, promovendo a co-educação e a igualdade de oportunidades nas mesmas escolas, o que provocou o movimento da passagem das escolas separadas para as escolas mistas. A educação diferenciada ficou marcada para sempre como uma educação nefasta.

Entretanto, durante esses 40 anos que domina a educação mista, foi-se percebendo que a igualdade de oportunidades educacionais trouxe a desigualdade de resultados. Os meninos, nas escolas mistas, obtiveram piores resultados do que nas escolas diferenciadas. As meninas se interessaram menos por matérias ditas masculinas, como informática, matemática e química. Nas universidades de todo o mundo a presença feminina já é maior nos cursos de prestígio, com tendências crescentes. A presença de ambos os sexos na mesma sala de aula, principalmente na adolescência, estimulou a desconcentração e o interesse por outros aspectos poucos educativos. O doutor Cornelius Riordan, professor renomado dos Estados Unidos e pesquisador consagrado nessa matéria há mais de 25 anos, ao proferir a conferência no Congresso de Bueno Aires, apontou para as enormes vantagens educacionais na educação pública quando se opta pela educação diferenciada. Segundo ele, alunos de condições mais desfavorecidos apresentam melhor resultados acadêmicos.

Muitos outros aspectos foram discutidos durante as conferências e colóquios, como as novas descobertas da neurociência que evidenciam diferenças cerebrais, celulares, psicológicas, sensoriais e hormonais entre homens e mulheres que favorecem ou atrapalham a aprendizagem; como conseguir uma boa socialização em escolas diferenciadas, de forma que não se perca a complementaridade; como saber se é mais conveniente a educação mista ou diferenciada; como potencializar o mercado de trabalho para professores homens; e muitos outros aspectos.

No próximo dia 26 de setembro se aprofundará de forma mais atualizada o tema da educação diferenciada no V Seminário Internacional de Família e Educação, o qual contará com dois especialistas de Madri, Espanha. Acredito que quem quiser vislumbrar melhor essa nova alternativa educacional terá de aproveitar a oportunidade e formar uma opinião sobre esse tema com maior liberdade.

João Malheiro, doutor em Educação (UFRJ), é diretor do Centro Cultural e Universitário de Botafogo www.ccub.org.br. E-mail: malheiro.com@gmail.com

Serviço: V Seminário Internacional de Família e Educação, dia 26/9, Hotel Bourbon de Curitiba. Inscrições - www.ief.com.br ou pelo telefone (41) 3233-5676

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]