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Domingo, 2 de julho deste ano da Graça do Nosso Senhor. Em Curitiba, a Igreja São Francisco de Paula reabriu suas portas históricas à comunidade promovendo a cerimônia da Dedicação da Igreja e do seu altar, acrescentando um capítulo vibrante na grandiosa história paroquial. É todo um patrimônio cultural e religioso que magnificamente se renova, encetado pela clarividência e bravura do pároco padre Ricardo Hoepers, também capelão do Hospital São Vicente, com a participação extensa e intensa dos paroquianos e alguns muitos fiéis contagiados. A igreja revigora a missão de acolher os fiéis, de contribuir para o aprimoramento do acervo cultural curitibano e de regurgitar a fé comunitária. A celebração, que contou com crianças, jovens, e adultos de todas as idades, foi além, muito além de seus propósitos iniciais.

A devoção a São Francisco de Paula na capital paranaense teve início em 1799, quando da criação da Confraria, por Manoel Gonçalves Guimarães. No ano seguinte, foi lançada a pedra da construção de uma igreja, onde estão atualmente as ruínas do Alto São Francisco, ponto turístico de amplo interesse. A capela ficou sob a responsabilidade dos franciscanos recém-chegados, mas foi demolida em 1914 e teve o terreno permutado por outro – em acordo entre a Mitra e a municipalidade –, situado nas esquinas das ruas Saldanha Marinho e Desembargador Motta. A nova paróquia, criada em 1936 por dom Ático Eusébio da Rocha, foi alvo da vitoriosa campanha em prol da construção da nova Matriz, cuja pedra fundamental foi implantada por dom Manuel da Silveira D’Elboux. O Colégio Lion sediou as funções religiosas até o final da obra.

São Francisco de Paula, a quem a referida igreja está consagrada, é o santo da mais estrita penitência. Nascido em Paula, na Calábria, em 1914, foi batizado em homenagem ao santo de Assis, a quem os devotos pais recorreram em função de um grave mal de visão que acometeu o filho na primeira infância. A cura foi atribuída às "proverello" e a penitência de agradecimento pela graça fez com que o púbere Francisco residisse um breve tempo em um convento franciscano. Cumprida a promessa, aos 14 anos, Francisco volta a residir com os pais, acompanhando-os em peregrinações a locais e santuários marcados pela forte presença de São Francisco de Assis. Foi nessa ocasião que o santo decidiu viver como eremita.

Primeiramente próximo à casa paterna, depois numa montanha longínqua e isolada, o santo viveu como o de Assis, nos primeiros anos de ascensão espiritual. Era um solitário na gruta que o abrigava, impondo a si mesmo duras penitências nos intervalos de orações. Vestido com um simples saial de eremita, cingido por uma tosca corda, alimentava-se de raízes e frutos silvestres. Interferindo na vida solitária, o acaso fez com que cães farejadores conduzissem um caçador à gruta, interrompendo um estágio de total isolamento que durou cinco anos. Logo a gruta tornou-se um ponto de convergência daqueles que buscavam conselhos do piedoso eremita. Francisco estava com 19 anos de idade quando a luz de sua santidade foi colocada no candeeiro e a missão de evangelizar foi assumida.

Subitamente o local, antes deserto, passou a abrigar seguidores do santo de fé e jornadas, os quais lançaram com ele a semente que iria desabrochar na Congregação dos Mínimos de São Francisco de Paula, sob o lema Charitas (Caridade). Humildade e austeridade pessoais, ilimitada caridade para com o próximo foram traços marcantes da santidade deste Francisco, dedicada ao apostolado entre a gente simples e explorada da Calábria. Identificação essa que o levou à corte do rei de Nápoles em defesa dos direitos dos camponeses oprimidos. Ao rejeitar a bolsa de moedas de ouro com que o soberano tentava cooptá-lo, o santo quebrou uma delas e com as mãos ensangüentadas disse: "É o sangue dos vossos súditos que brada vingança a Deus!"

Festejado a 2 de abril, São Francisco de Paula faleceu em 1505, perto de completar 90 anos de uma vida em "santa loucura". A Ordem dos Eremitas sob seu nome, chamados de Mínimos, prosperou e ganhou o mundo, convertida em antítese do espírito paganizante. Uma memorável herança que vem sendo enriquecida e revivida diuturnamente na Paróquia São Francisco de Paula, e que teve um momento culminante na data da revitalização, com a presença marcante do arcebispo dom Moacir Vitti. Um templo que entrega-o ao redor e se comunica com o Alto, que mostra a Arte – talento das criaturas – e evidencia na iconografia interna as três fases da Virgem Maria. O azul da pureza do manto interno dela, da expectativa de vida, a cor mariana. O vermelho simboliza a Igreja mãe e esposa, com Nossa Senhora tendo o Menino Jesus nos braços e a cor púrpura quando ela contempla o filho morto na cruz. O ato foi a palavra de Deus magistralmente vivenciada na história da gente curitibana.

Alzeli Bassetti é escritora, poeta e vice-presidente do Instituto Ciência e Fé.

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