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No Brasil há uma instituição em desuso que tem de ser imediatamente reativada, que é a exoneração, a demissão sumária de autoridades que falharam em suas missões

Falar das imagens de destruição, tristeza e morte causadas pelas chuvas no Rio de Janeiro não é mais novidade. Cenas de pais desesperados chorando a perda dos filhos, de famílias que perderam tudo o que penosamente acumularam ao longo de uma vida de sacrifícios, bombeiros e voluntários abnegados colocando a vida em risco utilizando equipamentos precários e improvisados, cavando a lama com as mãos... Essas imagens já frequentam a nossa casa com macabra regularidade, em que as únicas diferenças são os cenários e as datas. No ano passado, no Morro do Bumba em Niterói, antes em Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, Minas Gerais...

As chuvas na área serrana do Rio de Janeiro arrasaram tudo, e as autoridades, seguindo o script habitual, colocaram a culpa no passado, no populismo desenfreado, na irresponsabilidade dos políticos que deixaram que áreas de risco fossem ocupadas, encostas frágeis fossem desmatadas para abrigar mais despossuídos em busca de um canto para morar, qualquer que seja. Mas é de se perguntar: e o que os governantes atuais estão fazendo para corrigir a irresponsabilidade e a imprevidência dos que os antecederam?

Não quero pegar o governador Sérgio Cabral para bode expiatório, pois ele tem um fardo pesadíssimo a carregar em um estado que foi entregue em holocausto ao que existe de mais pustulento na vida pública brasileira: governadores populistas como Brizola e o patético casal Garotinho, legisladores comprometidos com a bandidagem, as milícias, a droga, a especulação imobiliária, o crime organizado e o crime desorganizado. Instituições corrompidas por anos de desmandos e de favoritismo e compadrio, prontas a voltar o rosto para o outro lado, a conviver tranquilamente com a barbárie e o deboche. Mas, afinal de contas, Cabral está no governo há quatro anos e o distinto público ficaria grato em saber objetivamente o que seu governo fez ao longo dos últimos quarenta e oito meses para, pelo menos, minorar o efeito de chuvas que caem no Rio de Janeiro todos os anos nas mesmas épocas, com monótona regularidade.

Quando o inevitável acontece, vêm as denúncias: o Crea vinha alertando para o perigo há vários anos, os bombeiros haviam chamado a atenção para a fragilidade da situação, o pesquisador fulano ou beltrano enviou relatório à agência tal ou qual alertando para o perigo, Sicrano fez uma denúncia pública na imprensa. E que aconteceu? Nada. E aí vem também a velha cantilena das promessas: "Daqui para a frente, tudo vai ser diferente...". Ia ser diferente em 1982, quando Petrópolis foi semidestruída, ia ser diferente quando Santa Catarina foi inundada, quando o Morro do Bumba veio abaixo. E nada foi diferente. O dinheiro existente para melhorar a capacidade de resposta da defesa civil não foi nem sequer liberado, quanto mais aplicado.

No Brasil há uma instituição em desuso que tem de ser imediatamente reativada, que é a exoneração, a demissão sumária de autoridades que falharam em suas missões. Há quanto tempo você, paciente leitor, não vê um secretário de Estado assumir a responsabilidade por um problema e se demitir como demonstração de humildade? Há quanto tempo você não vê um governador ou prefeito demitir um auxiliar para demonstrar sua insatisfação com o desempenho dele? Não precisa chegar ao nível do Japão, em que o ministro vai para a tevê e se auto-humilha, quando não se suicida. Ou na China, em que funcionários omissos ou desidiosos são fuzilados. Bastaria a pura, simples, singela exoneração do secretário, do diretor, de quem quer que seja, para mostrar que a omissão não é tolerada e a incompetência não é premiada.

Mas não desesperemos: a Copa de 2014 vem aí, as Olimpíadas de 2016, também, R$ 40 bilhões serão gastos em estádios, arenas e instalações esportivas e tudo será esquecido. E ia me esquecendo: daqui a menos de dois meses, é tempo da "ofegante epidemia que se chamava carnaval", onde o Bloco do Sanatório Geral desfilará com toda pompa e alegria.

Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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