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A evolução dos preços no Brasil, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 4,2% em 12 meses encerrados em setembro de 2007, bastante acima daquela verificada em idêntico período de 2006 (3,7%). Lembre-se de que o IPCA, pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede a variação dos preços de uma cesta de produtos consumidos por famílias que auferem rendimentos entre 1 e 40 salários mínimos.

O IPCA também representa o cerne da política econômica do país, centrada na busca do cumprimento de metas de inflação, fixadas em 4,5% ao ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), para o triênio 2007-2009, com banda de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o CMN visa o delineamento das expectativas dos agentes e acomodar choques de oferta e/ou o surgimento de fatores acidentais.

O índice foi impulsionado por alimentos e bebidas, com variação três vezes maior que a registrada em todo o exercício de 2006, afetados pelas chuvas e o calor intenso no começo do ano e pela subida de mais de 25,0% do preço do leite (3,4% em 2006), em decorrência da conjugação entre o período de entressafra (com inverno seco e diminuição do pasto e da alimentação do gado) e o aumento da demanda e dos preços externos, em conseqüência das quebras de produção acontecidas na Austrália e Nova Zelândia. Houve ainda o incremento dos preços das lavouras de ciclo curto (hortaliças e verduras) e a influência do surgimento da onda etanol.

Esse conjunto de constrangimentos explica a ocorrência de uma espécie de rebatimento da globalização da inflação no varejo. Em compensação, os preços dos combustíveis recuaram, em razão da queda dos valores de comercialização do álcool com a entrada da safra de cana-de-açúcar.

Não fosse a sobrevalorização do real, ladeando a depreciação global do dólar, a ascensão inflacionária acoplada aos alimentos seria ainda maior. Aliás, o câmbio apreciado permanece representando o principal fator explicativo da convergência entre o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) e o Índice de Preços no Atacado (IPA), apurados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que experimentaram incrementos de 5,7% e 6,9%, respectivamente, em um ano encerrado em setembro de 2007.

Em marcha semelhante, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), mensurado pela FGV, situou-se em 6,2% entre outubro de 2006 e setembro de 2007. Cabe frisar que a diferença fundamental entre o IGP-M e o IGP-DI repousa na periodicidade de coleta dos preços: dos dias 21 a 20 para o primeiro e de 01 a 30 (31) para o segundo.

A intensificação da concorrência e dos desdobramentos deflacionários exercidos pelos bens importados pode ser comprovada pela abertura de flancos para a realização de compras externas tanto de bens de investimento quanto de consumo, particularmente aqueles made in China.

No entanto, a influência do atraso cambial sobre os preços internos poderá perder fôlego, a partir da internalização da trajetória ascendente das cotações das commodities, em paralelo à adoção de posturas de recomposição de margens, principalmente por parte das empresas do segmento de serviços, em ambiente de expansão da demanda doméstica e dos salários reais.

Especificamente da área energética, devem emergir pressões exógenas nada desprezíveis, advindas do equilíbrio na equação entre oferta e demanda de petróleo, em face da ampliação do consumo, da diminuição da produção no Mar do Norte e do retardo na execução de grandes empreendimentos de exploração. Não por acaso, os preços do barril do óleo encontram-se acima de US$ 90, superando, em valores reais, aqueles prevalecentes depois do segundo choque do petróleo, em 1979.

Em sentido análogo, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), levantado para aferir a variação do custo de vida da população com rendimento entre um e oito SM, aumentou 4,9% em 12 meses, sinalizando que o imposto inflacionário interfere de forma mais dramática nos orçamentos das famílias pobres.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do curso de Ciências Econômicas da Unifae – Centro Universitário Franciscano do Paraná – FAE Business School.

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