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Nas últimas semanas, surgiu um acalorado debate a respeito do projeto de implantação do Expresso Ligeirão Norte, que vai do Santa Cândida à Praça do Japão. A discussão se refere a possíveis intervenções na praça, seja cruzando-a (retirando o Portal Japonês para que o ligeirão possa fazer o retorno e seguir no sentido Santa Cândida), seja como forma de movimentar o comércio na região com o aumento da circulação de pessoas. As opiniões são divergentes e acabam influenciando o dia a dia da comunidade local. Minha intenção é apresentar um ponto de vista de quem estuda os espaços e equipamentos de lazer da cidade de Curitiba.

As praças são espaços públicos livres que, segundo a professora Simone Rechia, da Universidade Federal do Paraná, servem para interromper um conjunto de edificações, normalmente se localizam na confluência de ruas e devem estar livres de veí­­culos. Essa é uma realidade que observamos atualmente na Praça do Japão, espaço com 14 mil metros quadrados que segue as linhas tradicionais dos jardins japoneses – possui lago de carpas e 30 cerejeiras enviadas do Japão – e abriga o Memorial da Imigração Japonesa, a Casa da Cultura e o Portal Japonês.

No entanto, com a execução do projeto, caso ocorra de fato interferência urbanística no local, a Praça do Japão perderá parte de sua característica. Um ponto que precisa ser levado em consideração é que ela pode se tornar um simples local de passagem, algo que já observamos em diversas cidades e até mesmo em outras praças de Curitiba, consideradas meramente uma "quebra de edificações". Isso significa que os usuários as utilizam somente como trajeto. Essa relação de "passagem" com o espaço não gera um vínculo com o lugar, impossibilitando experiências diversificadas no âmbito do lazer.

Essa preocupação se faz presente nas opiniões dos moradores e colaboradores da Praça do Japão. O que pode acontecer ali já ocorre na área central da cidade: as praças servem como espaços articuladores e centralizadores da circulação de pedestres, além de servirem como pontos integradores dos meios de transporte coletivo, mas acabam perdendo uma de suas principais funções, que é a de ser um espaço de lazer urbano.

Atualmente, a Praça do Japão se consolida como área de lazer, servindo para a convivência das pessoas. Ela atrai os moradores das proximidades, que a frequentam a fim de desfrutar de momentos de tranquilidade e sociabilização em áreas arborizadas e ajardinadas.

A crescente urbanização faz com que a utilização dos espaços das cidades seja direcionada para a funcionalidade, mas eles não devem ser apenas espaços públicos esvaziados, e sim um palco de representações sociais diárias, onde todos têm a liberdade de atuar, abrindo espaço para as manifestações mais intensas, criando, recriando e ressignificando a cultura. Assim, são justamente esses pontos que se espera de um espaço como a Praça do Japão.

Felipe Sobczynski Gonçalves, mestre em Educação Física, é professor nas redes estadual e municipal de ensino em Curitiba.

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