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Estrutura obsoleta, poder compartilhado e desempenho centrado em áreas de conhecimento e grupos de interesse distintos fazem com que as universidades apresentem uma lenta capacidade de resposta

Há um entendimento disseminado na sociedade de que a universidade é uma organização social relevante. É na universidade que o conhecimento é produzido e transmitido, assim como se constitui em locus no qual a formação educacional e profissional de futuras gerações tem lugar, além do desenvolvimento da cultura, das ciências e das artes.

Trata-se de uma organização social especializada, por excelência, centrada na disseminação e produção do conhecimento, o que a torna imprescindível e legitimada diante da sociedade.

Essas organizações sociais vêm se modificando muito lentamente ao longo do tempo. Ao mesmo tempo em que se mantêm fiéis aos seus princípios, valores e tradição, as universidades em todo o mundo tem sido desafiadas a responder às demandas de uma sociedade global, capitalista, diversificada e com enormes desafios nos campos político, econômico, social e tecnológico. Mas o que dizer das universidades brasileiras? Seriam essas as instituições que o setor produtivo e a sociedade brasileira aspiram? Parece que não, pois existem frustrações e descontentamentos quanto ao desempenhos dessas organizações.

Estrutura obsoleta, poder compartilhado e desempenho centrado em áreas de conhecimento e grupos de interesse distintos fazem com que as universidades apresentem uma lenta capacidade de resposta às demandas. As inovações são incrementais e localizadas. Trata-se de processo moroso que envolve diferentes grupos de interesse, com decisões colegiadas tomadas em diferentes escalões hierárquicos.

Questionadas quanto ao seu real desempenho e valor, as universidades são alvo constante de críticas de diversos segmentos da sociedade que exigem maior qualidade, competência e relevância social de suas ações. Criadas para educar pessoas e transformá-las em profissionais e cidadãos, estão se afastando de sua real missão educacional, cientifica e cultural. A competição, as avaliações, a busca desenfreada por recursos, a estrutura burocrática, o corporativismo, a administração amadora, a prática disseminada do uso de modelos empresariais equivocados e a lucratividade do setor da educação superior têm se constituído em fatores críticos, que contribuem para desempenhos pífios, inércia, distorções e desvios de sua real missão. Há uma clara consciência de que a universidade que o país necessita não existe atualmente. Hoje se assemelha mais aos dinossauros. Adota um comportamento narcisista, voltada para si mesma e servindo objetivos menores de grupos internos.

Precisamos de universidades que sejam dínamos e agentes de mudanças. Para isso reformas são necessárias e incluem estrutura mais ágil e compatível com a natureza dessas organizações, eliminando estâncias de decisão desnecessárias, trazendo maior funcionalidade organizacional.

Caberá às lideranças promover as transformações necessárias nos processos internos. Isso implica no afastamento da burocracia excessiva nos processos gerenciais e acadêmicos, de carreiras docentes mais atraentes centradas na meritocracia, na produção intelectual, na criação e desativação de cursos, na adoção de gestão profissional, novas formas de atrair e reter talentos dentre outras iniciativas. Em termos comportamentais, encorajar iniciativas que fomentem a criatividade e a inovação na área acadêmica. Essa transformação irá exigir dos dirigentes universitários vontade política para enfrentar as dificuldades e as resistências que se sabe estarem disseminadas nas universidades. Da mesma forma, muitos dos problemas enfrentados pelas universidades têm sua origem em normas equivocadas e ultrapassadas do Ministério da Educação.

Victor Meyer Jr, professor da PUCPR, é doutor em Administração Universitária pela Universidade de Houston (EUA).

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