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A maior lição que aprendemos dessa manifestação de Brasília, no Dia da Independência, é a reflexão que devem fazer todos os políticos ideológicos, que fazem política para mudar o Brasil: o mandato vale a pena?

No dia Sete de Setembro – Dia da Independência do Brasil –, a população de Brasília (DF) foi às ruas manifestar contra a corrupção com o mesmo ou maior empenho dos atos contra a ditadura militar, no passado. Estimativas variam e indicam entre 25 mil e 40 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios.

A maioria dos presentes era jovem e portava cartazes e faixas com as principais reivindicações do momento: transformação da corrupção em crime hediondo; educação é igual a mais escolas e menos estádios; a corrupção é a indústria da miséria; fim do voto secreto; utilização dos serviços públicos pelos políticos.

A grande manifestação foi ruidosa, com os jovens, crianças e pais vestidos de luto, com seus instrumentos musicais, bem como palavras de ordem em prol da moralização pública.

A concentração começou bem cedo, por volta das 8 horas da manhã, ao lado do Museu da República. O sol forte, o calor e a secura não foram suficientes para impedir a marcha, que partiu rumo à Praça dos Três Poderes, no momento em que os aviões faziam a festa da Independência no céu azul de Brasília.

A primeira parada foi ao lado do Congresso Nacional, onde os manifestantes pediram o fim do voto secreto para todas as votações no Parlamento. Depois, a passeata ocupou a Praça dos Três Poderes, onde houve um grande ato, com faixas de todos os movimentos wébicos que convocaram a manifestação, como se fosse uma confraternização na vida real do que se passa no mundo da internet.

A manifestação esperou o fim do desfile militar e ocupou o espaço do Eixo Monumental rumo à Rodoviária, mas se dividiu em duas partes. Uma parte foi até a Rodoviária, local combinado para finalizar o ato. Outra parte ocupou o gramado em frente do Congresso Nacional e os mais novos entraram no espelho d’água para dar o seu recado o mais próximo possível da rampa.

De um lado, essa manifestação serve para separar o povo de Brasília da Política Nacional. Nos últimos anos, a corrupção generalizada terminou contaminando a imagem de Brasília, não só porque Brasília simboliza a corrupção nacional, mas também porque os governos de Brasília terminaram justificando a imagem que era exportada.

A manifestação mostrou que Brasília não é apenas a capital do Brasil, mas também o centro de onde se luta contra a corrupção. A grande passeata de Brasília mostrou alguns outros fatos importantes.

Os manifestantes mostraram mais indignação que afirmação. Foi uma legítima manifestação do povo, sem a necessidade de lideranças pessoais.

Por isso, não aceitaram na organização a presença de políticos e de partidos, tanto de esquerda quanto de direita. E, vice-versa, como os partidos e entidades que tradicionalmente lutavam pela ética na política, desta vez ficaram ausentes, com exceção dos órgãos: OAB e ABI.

Essa foi a primeira grande manifestação brasileira, atrasada em relação a outros países, convocada diretamente pelas redes sociais na internet, da mesma forma daquelas que mudaram o governo espanhol nas últimas eleições e derrubaram ditaduras em países árabes.

E mais: a maior lição que aprendemos dessa manifestação de Brasília, no Dia da Independência, é a reflexão que devem fazer todos os políticos ideológicos, que fazem política para mudar o Brasil: o mandato vale a pena?

Respondo: vale a pena, desde que se aproxime do povo.

Cristovam Buarque, professor da UnB, é senador pelo PDT-DF.

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