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Dia desses, cansado das propagandas políticas e, sobretudo, do caráter de muitos políticos, resolvi viajar no tempo. Em poucos segundos, encontrei-me com Sócrates, que viveu de 469 a 400 a.C. Dele, trouxe alguns juízos:

"Uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida."

"A virtude não vem da riqueza, mas a riqueza e todas as coisas boas que os homens possuem vêm da virtude."

"Eu não posso ensinar nada a ninguém. Eu posso apenas fazê-lo pensar".

"Há apenas um bem: conhecimento; e um mal: a ignorância."

"Sou o maior sábio vivo, porque só sei uma coisa: que nada sei."

Parei 20 anos depois, para ouvir Platão, que ensinava:

"Nada humano é de séria importância."

"O preço que os homens bons pagam pela indiferença aos negócios públicos é serem governados pelos homens maus."

"Tudo que engana pode ser dito para encantar."

"Palavras falsas não são apenas más em si mesmas, elas infectam a alma com o mal."

Lá por 330 a.C., avistei Aristóteles; parei e ouvi:

"A educação é a melhor provisão para a jornada em direção à velhice."

"A base de um estado democrático é a liberdade."

"A simplicidade faz o ignorante mais efetivo do que o educado, quando se dirige ao público popular."

"Devem governar aqueles que são capazes de governar melhor."

Fiquei tentando aplicar essas máximas de Aristóteles ao Brasil de 2006 e só parei no ano 30 da nossa era. Ouvi Cristo pregando e ele dizia: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Seu contemporâneo Sêneca disse-me: "Deves viver toda a vida aprendendo a viver, mas por mais que tu te espantes, toda a vida é um aprender a morrer".

Segui viagem e parei no ano 400 para ouvir Santo Agostinho:

"Ó Senhor, ajude-me a ser puro, mas não ainda."

"Reze como se tudo dependesse de Deus. Trabalhe como se tudo dependesse de você."

Pensativo, atravessei a Idade das Trevas, em que havia muita religião e pouca filosofia. 860 anos depois, parei em1260 para ouvir Tomás de Aquino dizendo:

"Cuidado com o homem de um só livro."

"Três coisas são necessárias à salvação do homem: saber em que ele deve acreditar; saber o que ele deve desejar; e saber o que ele deve fazer."

Encantei-me com o Renascimento e a descoberta do Novo Mundo. Em 1630, deparei-me com René Descartes, que dizia:

"Penso, logo existo."

"Nada é mais justamente distribuído que o bom senso: ninguém pensa que precisa mais do que realmente já tenha."

Em 1650, ouvi Baruch de Spinoza afirmar:

"Não há ninguém que seja mais tomado pela bajulação do que o orgulhoso, que deseja ser o primeiro, mas não o é."

"Não há esperança sem medo, e não há medo sem esperança."

Passei sem parar por vários gênios, nas artes, nas ciências e na filosofia. Em 1780, encontrei Immanuel Kant, e parei a tempo de ouvi-lo enunciar seu "imperativo categórico":

"Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre como princípio de uma legislação universal."

Ainda guardei dele mais duas máximas:

"Ser é fazer."

"Ciência é conhecimento organizado. Sabedoria é vida organizada."

Não pude ouvir Hegel, Marx e Rousseau. Sem tempo de ouvi-los, parei rapidamente por volta de 1840 para ouvir Arthur Schopenhauer que dizia:

"Casar-se é cortar ao meio seus direitos e dobrar suas tarefas."

"Os anos finais da vida são como o fim de uma festa mascarada quando as máscaras caem."

Na reta final de minha viagem ainda ouvi de Soren Kierkegaard:

"A vida não é um problema a ser resolvido, mas um mistério a ser vivido."

Friedrich Nietzsche, em 1890, disse-me:

"O sucesso tem sido sempre um grande mentiroso."

"Uma pessoa deveria morrer orgulhosa quando não é mais possível viver com orgulho."

"Falar muito a respeito de si mesmo também pode ser um meio de esconder a si mesmo."

Não pude ouvir Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Camões, Fernando Pessoa e tantos outros... Fiz ainda uma parada em 1950, para ouvir Jean-Paul Sartre dizer:

"Tudo tem sido descoberto, exceto como ser feliz."

"O inferno são os outros."

"Agir é uma feliz agonia."

Já no Brasil, fiquei triste por não ter tido tempo para Rui Barbosa, Guimarães Rosa e outros. Registrei, apenas, estes versos de Carlos Drummond de Andrade:

"Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração."

Finalmente estou em casa, em 26 de setembro de 2006. Sentei-me no sofá e liguei a televisão. O horário do TRE continuava em todos os canais e aí entendi uma frase de Hegel (1770–1831), que deixei de citar:

"O que a experiência e a História nos ensinam é que as pessoas e os governos nunca aprenderam nada da História, nem agiram por princípios deduzidos dela".

Oriovisto Guimarães é professor, diretor-presidente do Grupo Positivo, reitor do UnicenP – Centro Universitário Positivo e membro da Academia Paranaense de Letras (APL).

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