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A guerra que os estadunidenses deflagraram, há dez anos, não é contra o líder da Al-Qaeda, mas contra o "terror", que não é um alvo, mas uma tática de confronto

A morte de Osama bin Laden está sendo vista, principalmente pela população dos Estados Unidos, como uma grande "vitória" militar daquele país que, por meio de seus serviços de inteligência, encontrou o esconderijo do terrorista e matou seu inimigo número um, aumentando o nível de segurança internacional. A frase precisa ser interpretada de modo crítico para que o verdadeiro significado do evento possa ser compreendido. As relativizações em relação à sua importância política e estratégica são diversas, mas tentaremos resumi-las.

Primeiramente, Osama bin Laden somente pode ser considerado o inimigo número um dos Estados Unidos em termos retóricos e simbólicos. A guerra que os estadunidenses deflagraram, há dez anos, não é contra o líder da Al-Qaeda, mas contra o "terror", que não é um alvo, mas uma tática de confronto, utilizada por grupos que não têm outros meios de luta. Nesse sentido, o terrorismo não nasceu ou morreu com Bin Laden. Osama era, simplesmente, um símbolo de uma estrutura que funciona de modo completamente descentralizado, a partir de decisões que são articuladas localmente, contra quaisquer representantes de um sistema que produz mais excluídos que incluídos. O terrorismo, uma tática perversa que generaliza seus inimigos, é o meio de luta de grupos que, normalmente, subvertem valores religiosos e políticos, utilizando-se da guerrilha e de quaisquer ferramentas de que disponham, sejam aviões de transporte civil ou bombas amarradas aos seus corpos. Por essa caracterização, só há uma maneira de vencer o "terror": pela conquista dos "corações e mentes" dos possíveis adversários e pela sua inclusão no sistema político-econômico internacional. Tudo o que os Estados Unidos têm feito, desde 2001, é contrário a isso. As mortes de civis no Iraque e no Afeganistão, as torturas reveladas pela mídia internacional, a prisão de Guantánamo e outras tantas iniciativas são, potencialmente, instrumentos para que os terroristas consigam mais adeptos. O verdadeiro inimigo número um dos Estados Unidos não é Bin Laden, mas o próprio processo de implantação de suas políticas externas. Obama, em alguns momentos, parece perceber isso, mas não tem os instrumentos institucionais para construir mudanças definitivas.

Em segundo lugar, e em consequência das colocações anteriores, pode-se inferir que o fim de Bin Laden e, principalmente, as absurdas celebrações dos estadunidenses, comemorando a morte de um ser humano, tendem a fomentar o aumento do ódio aos Estados Unidos, minimizando, ainda mais, sua segurança internacional. Não é à toa que novos ataques terroristas são esperados.

Um terceiro ponto que deve ser discutido é o conceito de vitória da inteligência estadunidense na ação. Os Estados Unidos levaram dez anos para encontrar um indivíduo que estava vivendo a 700 metros de uma base militar paquistanesa, em uma mansão, no meio de uma cidade de porte médio do Paquistão. Não havia esconderijo nas cavernas e proteção de milhares de soldados tentando defender seu líder. Parece-nos, portanto, que a eficiência dos serviços de inteligência dos EUA não é tão grandiosa quanto Obama tem vendido. Apesar disso, diversas alterações que o atual presidente vem promovendo melhoraram o processo de coleta de informações pelos órgãos de inteligência. Barack Obama é responsável direto pela morte do líder da Al-Qaeda, pois aprimorou as estratégias incoerentes da gestão anterior. O ganho político para o presidente, que já inicia sua campanha de reeleição, será enorme; sua popularidade deve aumentar muito.

A morte de Bin Laden, portanto, foi importante não para os Estados Unidos, mas para seu presidente: a vitória foi mais política que militar. O nível de segurança de seu país, porém, não aumentará. A Al-Qaeda continuará atuando e o terrorismo continuará sendo uma tática importante de luta armada.

Juliano da Silva Cortinhas, coordenador do curso de Relações Internacionais do Unicuritiba, é editor do blog Internacionalize-se (http://internacionalizese.blogspot.com).

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