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O problema da infraestrutura reflete uma mentalidade de curto prazo do setor público que apenas investe após a ocorrência de problemas mais sérios

Recentemente fiz uma viagem à cidade de Florianópolis para participar de uma defesa de dissertação de mestrado e apresentar um seminário na Universidade Federal de Santa Catarina. Estava na dúvida pela opção do meio de transporte a ser utilizado por causa da distância entre Curitiba e a capital catarinense.

Decidi ir de avião em uma viagem que estava programada para levar três horas devido a uma conexão no aeroporto de Congonhas. Minutos antes de decolar, choveu forte na cidade de São Paulo, fechando o aeroporto por cerca de 40 minutos. Tivemos de ficar esperando dentro do avião até que o aeroporto de Congonhas voltasse a operar.

Um raciocínio razoável seria: como o aeroporto fechou por cerca de 40 minutos, todos os pousos e decolagens irão atrasar, aproximadamente, pelo mesmo período. No entanto, como o referido aeroporto opera no limite de sua capacidade, ou acima, o fechamento provocou uma série de atrasos, um verdadeiro efeito bola de neve. Ou seja, a chuva não para apenas as ruas e avenidas da cidade.

Resultado: ficamos esperando por mais de uma hora dentro do avião no aeroporto Afonso Pena até que o voo fosse autorizado. Quando chegamos a Congonhas, já tinha perdido a conexão e cheguei em Florianópolis com 3 horas de atraso. Poderia ter demorado ainda mais, pois o outro voo da conexão saiu no horário, enquanto vários outros estavam atrasados.

A mensagem que fica é a precariedade da infraestrutura dos aeroportos no Brasil. Dados do blog do economista Mansueto de Almeida, Técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA e doutorando em políticas públicas no MIT, Estados Unidos, mostram que os investimentos realizados em programas de reforma e ampliação de aeroportos foi de apenas R$ 845,7 milhões, entre 2007 e outubro de 2010, menos de um terço do previsto no PAC para o triênio.

Nesse ritmo, como podemos atender o crescimento da demanda puxada pela nova classe média e pelo aumento da renda média dos brasileiros? O Instituto Data Popular estima que 1,5 milhão de pessoas farão sua primeira viagem área nos meses de janeiro e fevereiro de 2011. Isso sem falar no período da Copa de Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016.

O pior é que isso é apenas a ponta do iceberg. O país vem enfrentando sérios problemas de infraestrutura ferroviária, rodoviária e portuária, com efeitos significativos nos custos e agilidade no transporte de pessoas e mercadorias, reduzindo a competitividade do Brasil em um mundo cada vez mais produtivo, sem mencionar os acidentes em seus consequentes custos econômicos, sociais e pessoais.

Indo mais fundo, o problema da infraestrutura reflete, além dos recursos escassos, o que é típico em países em desenvolvimento, uma mentalidade de curto prazo do setor pú­­blico que apenas investe após a ocorrência de problemas mais sérios. Ou seja, não previne e precisa remediar, o que acaba saindo mais caro para a sociedade como um todo.

É estranho pensar que vivemos em um país com crescimento razoável do PIB na última década, com aumento da carga tributária de forma contínua, mas sempre com reduzidos investimentos públicos em infraestrutura. Para onde está indo todo o dinheiro dos impostos? Como cidadãos, precisamos fazer essa pergunta e ir atrás das respostas.

Luciano Nakabashi, doutor em Economia, professor do Departamento de Eco­­no­­­mia da UFPR e pesquisador do CNPq. luciano.nakabashi@gmail.com

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