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Proibidas de divulgar seus balanços durante os pregões, empresas listadas em bolsa de valores normalmente escolhem horários próximos ao início ou ao fim das atividades do mercado financeiro para divulgar seus dados. A Petrobras, no entanto, optou por publicar seu balanço do terceiro trimestre de 2014 no meio da madrugada de quarta-feira. É quase uma admissão de que os números divulgados careciam do mínimo de credibilidade, até mesmo porque não trazem o aval da consultoria independente PwC. A publicação está bem atrasada – já deveria ter ocorrido em novembro. A estatal foi adiando sucessivamente a entrega dos dados, descumprindo prazos, mas, se deixasse passar janeiro de 2015 sem oferecer as informações, o vencimento de quase US$ 20 bilhões em dívidas da empresa nos Estados Unidos seria antecipado. Com essa corda no pescoço, não restou opção a não ser publicar o que fosse possível.

Os números colocados no papel, no entanto – lucro líquido 38% menor que o do segundo trimestre de 2014 e quase 10% menor que o do terceiro trimestre de 2013 –, ficaram em segundo plano diante do valor que realmente importava e que não aparece no balanço: a dimensão exata da roubalheira promovida na estatal ao longo de anos e anos do esquema que está sendo investigado pela Operação Lava Jato. Levantar essa informação era justamente um dos principais motivos alegados pela Petrobras para adiar por dois meses a divulgação de seus números. A conclusão é assustadora, e foi admitida até mesmo pela presidente Graça Foster, ainda que com alguns eufemismos: é quase impossível saber o quanto foi desviado e ninguém dentro da empresa tem a menor ideia de como estimar o rombo.

Isso não impediu o ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, de classificar como "transparência absoluta" a divulgação do balanço – ainda que, como apuraram vários jornais, a decisão de riscar do balanço qualquer dado sobre valores desviados tenha partido do próprio Palácio do Planalto. O máximo que a empresa tolerou foi afirmar que, segundo uma de várias metodologias adotadas para o cálculo, poderia haver até R$ 88 bilhões em ativos superfaturados, analisando contratos feitos entre 2004 e 2012 com empresas investigadas na Lava Jato (por outro lado, haveria um subfaturamento de R$ 27 bilhões em outros ativos). Esses R$ 88 bilhões, no entanto, não aparecem no balanço, e sim no comunicado assinado por Graça Foster. Mesmo assim, esse mínimo de transparência foi o suficiente para enfurecer a presidente Dilma Rousseff, segundo assessores ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo. Dilma não queria a divulgação desse dado, e o próprio Conselho de Administração teria optado por tornar o número público por um motivo puramente pragmático: o medo de que ele acabasse vazando de uma forma ou de outra, colocando os conselheiros, que seriam acusados de estar omitindo informações, em mais uma saia justa.

Tanto o que o balanço diz quanto o que deixa de dizer evidenciam os enormes danos causados por mais de uma década de aparelhamento da Petrobras pelo grupo que ocupa o Palácio do Planalto. Afinal, a causa de todo o descalabro pelo qual a estatal vem passando é exatamente o uso de patrimônio público para fins partidários – para todos os efeitos, uma privatização torta da companhia. Perdem os acionistas minoritários, que acreditaram no potencial de uma empresa sem saber que ela vinha sendo pilhada; e perde o próprio Brasil, que vê prejudicada a capacidade de sua petrolífera abastecer o país e seguir seu plano de pesquisa e investimentos.

Na noite de quinta-feira – ou seja, depois da divulgação do balanço –, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou o rating da Petrobras, de Baa2 para Baa3. Este é o último nível do chamado "grau de investimento". Um novo rebaixamento (que a Moody's não descarta, segundo comunicado da agência) tiraria a estatal desse patamar, colocando-a no "grau especulativo", o que prejudicaria a captação de recursos. Tal é o caos em que a administração petista lançou um orgulho nacional.

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