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Comparação inevitável: Lula em Paris, o ministro-menestrel de relações exteriores, Gilberto Gil, ovacionado na turnê de shows e a França curvada diante do Brasil – exatamente no dia 14 de Julho, 216 anos depois da queda da Bastilha, presídio-símbolo do absolutismo francês.

É nossa, porém, a primazia de lembrar a Revolução à Francesa – nós a comemoramos antes, dia 13, quando a tropa dos federais invadiu a Daslu, loja-paradigma da nossa prosperidade visando aprimorar a revolução à brasileira.

Como sempre acontece quando grã-finos e celebridades estão em pauta, a intensidade do barulho é maior do que o tamanho real do escândalo. A maioria dos jornais reconheceu a gravidade das infrações fiscais cometidas na Catedral do Consumo, mas a elite endinheirada não gostou do "show de pirotecnia". Na realidade, a elite endinheirada não gostou do show de eficiência – apenas dois meses depois da deslumbrada inauguração do lojão, os federais da Polícia e da Receita conseguiram pegar os infratores com a boca na botija.

Os ricos votaram em Lula, era chique, mas os novos ricos não gostam de sentir-se ameaçados. Imaginam que tudo podem, por isso assanham-se quando descobrem que são cidadãos como os outros.

É ridícula a indignação do empresário Paulo Skaff, presidente da Fiesp, eleito com o apoio acintoso do ex-ministro José Dirceu, hoje em desgraça. O industrial-sem-indústria não revoltou-se quando os federais deslancharam a Operação Curupira na qual foi preso, algemado e fotografado um engenheiro-florestal, profissional exemplar, inocentado uma semana depois.

Os investidores estrangeiros não se assustam com estas operações para colocar a casa em ordem, o que os afugenta é justamente a corrupção desbragada, a rotina dos subornos e propinas. Empresário estrangeiro exulta com a PF (Polícia Federal) e abomina o PF (Por Fora).

A doidivanas Maria Antonieta, quando soube que o povo queria pão, mandou que comessem brioches. Os sócios da Daslu tentam sossegar os que se indignam com o luxo do seu templo e colocaram um crucifixo no logotipo.

Sosseguem os neodemocratas: a Operação Narciso não fere o Estado de Direito. O que ameaça as liberdades, os direitos, a ordem e o progresso é o vandalismo que começa a manifestar-se com insistência ao lado das reivindicações salariais e ações sindicais. Os quebra-quebras estão virando moda, esta é uma moda que o governo precisa coibir. Castigar sonegadores só reforça a sensação de igualdade, mas a complacência com a violência privilegia os desordeiros.

Seis dias depois do incêndio da Bastilha, a França foi sacudida pelo "Grande Medo", responsável em parte pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada 12 dias depois. A onda de saques não aplacou a fome, ao contrário, exacerbou-a. Em seguida à decapitação do rei e da rainha (em 1793), começou o Terror, suplantado logo depois pelo Grande Terror que dividiu a França ao longo de dois séculos.

Distraídos pelos escândalos e pelo forró parisiense, nossos políticos e governantes não prestaram muita atenção à nova fase do Terror moderno – o islâmico. Os donos dos nossos destinos preferem sempre a corda-bamba politicamente correta e moralmente abjeta, esquecidos de que os homens-bomba de Londres eram cidadãos britânicos que assassinaram 54 compatriotas, diferentemente dos comparsas alienígenas que destruíram o WTC em Nova Iorque.

Isto significa que a violência política está sendo exportada do Oriente e implantada nacionalmente. A primeira ação foi justamente num país democrático, modelo de acolhimento de minorias.

Num cenário mundial dominado por massacres e o terror político, a Daslu é irrelevante. Se a empresa mostrar-se incapaz de sobreviver honrando os seus compromissos fiscais, deve fechar as portas. A Louis Vuitton ou a Burberry não sofrerão grandes prejuízos e os seus mil empregados serão facilmente absorvidos pelo mercado de trabalho.

Perigosa é a combinação de um governo encurralado e um presidente popular. O modelo no caso não será Luís XVI mas Hugo Chávez – enredo de uma escola de samba carioca no próximo carnaval.

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