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O dia 17 de dezembro passado assinalou o centenário do nascimento de um grande paranaense e grande brasileiro, o ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto. Muitas e merecidas homenagens lhe foram prestadas. Associamo-nos a essas homenagens relembrando algumas de suas palavras que consideramos de grande significado. Foram pronunciadas há mais de meio século – 28 de agosto de 1951 e 4 de agosto de 1953 –, mas continuam de grande atualidade. Na primeira dessas ocasiões, disse o então governador do Paraná:

"Nós, paranaenses, que travamos uma longa batalha de brasilidade, compreendemos, em toda a sua grandeza, a função unificadora e nacionalizante do Exército. Função que vem desde o tempo colonial, herdeiro da índole unitária do português, que contribuiu para que permanecessem brasileiras todas as regiões em que se fixou, culturalmente, com o predomínio de seus estilos de vida. No Império, que foi uma vocação de unidade dos nossos maiores da Independência, o Exército unificou as dispersões do bloco nacional, grande como continente, onde cabem e onde, sobretudo, devem caber legítimas diversidades regionais, inspiradas, contudo, pelo mesmo espírito de uma só Pátria. O Exército sustentou galhardamente a política exterior imperial, cujas diretrizes viriam dar ao Sul a configuração definitiva do Brasil. Em nossa primeira experiência federativa, com o regime de 91, quando as sensibilidades locais se exasperavam, só o Exército continuava como antes e como sempre, nacional.

A sua função nacionalizante, nós a sentimos e testemunhamos todos os anos, quando transpõem os umbrais de seus quartéis, brasileiros de origem estrangeira imediata, que ali aprendem a amar as nossas tradições e o nosso passado como se fossem de seus próprios ascendentes. Incorporando e unificando quando a desordem nos espreita, o Exército tem uma palavra e uma atitude de hierarquia e de ordem. Quando um pessimismo, que é ativo apenas no terreno utilitário, parece infiltrar-se na alma da nacionalidade, corroendo aqueles fortes entusiasmos, que os grandes povos alimentam e com os quais sabem vibrar, o Exército tem uma palavra de fé, pregando civismo e dando a todas as gerações, inclusive às envelhecidas e, às vezes, às precocemente envelhecidas, as mesmas crenças que fazem a adolescência lutar.

Vigiando pela sobrevivência da nacionalidade, o Exército tem hoje missão tão árdua quanto no passado. A sua fidelidade ao Brasil, ao verdadeiro Brasil, que não se confunde com caricaturas exóticas, e a sua vocação de acompanhar sempre as aspirações nacionais, dá-lhe papel relevante no embate das incompreensões contemporâneas, nesse nosso mundo que se reestrutura ao embate de classes, raças e culturas".

Dois anos mais tarde e ainda sobre o mesmo assunto, deixaria à posteridade o seguinte pensamento:

"Na verdade, o Paraná apresenta características especiais diante das Forças Armadas. Nós temos alguma coisa de diferente na defesa da brasilidade. Foi no nosso planalto que os bandeirantes e os portugueses empurraram os castelhanos para o oeste. Foi entre o Iguaçu e o Uruguai que o caboclo paranaense plantou no sertão as raízes de brasilidade que permitiram a Rio Branco defender os direitos brasileiros. E mais ainda: o problema da brasilidade nesse planalto continua desde o tempo das Bandeiras até hoje, no trabalho de assimilação dos brasileiros de origem européia recente. Nós, brasileiros mais antigos, os assimilamos à nossa civilização e o Exército Nacional os integra civicamente dentro da comunidade da Pátria grande. Quer dizer que o Exército Nacional realiza, no planalto paranaense, essa função nacionalizadora com uma intensidade maior do que em qualquer setor do Brasil.

Temos assim, diante das Forças Armadas do país, um espírito de compreensão que implanta profundamente no chão da Pátria as suas raízes. Vai longe o tempo em que os problemas militares separavam-se dos problemas nacionais. Se, de algum modo, a expressão militar de um país reflete sempre as suas condições nacionais, houve época em que os problemas militares se apresentaram sob aspecto completamente diferente dos problemas propriamente nacionais. Quem lê o grande livro de Nabuco: "Um Estadista do Império" e se fixa sobre a política nacional durante a Guerra do Paraguai, quando o Exército lutava no extremo sul, tem a impressão de que a vida na Corte, sobretudo a vida política, se processava normalmente, como se nada de diferente estivesse acontecendo para os destinos nacionais. A vida política continuava normal, com as suas intrigas, com os seus golpes, com as suas glórias e suas misérias, com o muito das suas incompreensões e dos seus sacrifícios e com o pouco de suas compensações. Não houve um Gabinete de Guerra. E isso porque o que lutava não era a Nação, era o Exército. Hoje, porém, quando a técnica moderna se complicou, quando o mundo tende para a unidade, não são mais os exércitos que lutam, são as nações, e por isso hoje, mais do que nunca, o exército é a nação em armas e mais do que nunca o exército tende a acompanhar os problemas nacionais, que são essencialmente problemas militares. E não enxergo nenhum exército que tenha as condições do Exército Brasileiro, para integrar-se no espírito da Nação. Nenhum exército talvez exista, mais antimilitarista do que o Exército Brasileiro. Não existe aqui uma casta militar. O Exército reflete democraticamente a mentalidade brasileira".

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