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O prontuário do senador Renan Calheiros, do PMDB alagoano, definitivamente não aconselha a sua recondução à presidência do Senado na eleição deste domingo – embora já se considere inevitável que ele permaneça na cadeira, não por suas virtudes, mas exatamente em razão de seus defeitos, estes bem ao gosto das relações de interesse político que fazem diuturnamente a travessia da Praça dos Três Poderes, em Brasília. A fragilidade gerencial e política da presidente Dilma Rousseff se curva diante do caldo no qual o PMDB cultiva suas ambições de dominar cada vez maiores nacos do poder. Daí a força de Calheiros para ficar onde está, favorecido também pelo cômodo esconderijo que a batalha pela presidência da Câmara dos Deputados lhe proporcionou – afinal, todos os holofotes do Legislativo neste domingo estarão apontados para a renhida disputa entre o peemedebista Eduardo Cunha e o petista Arlindo Chinaglia.

Um dos últimos registros do prontuário do senador alagoano descreve a utilização de avião oficial para levá-lo de Brasília a uma clínica de implante capilar no Recife. Flagrado, prometeu ressarcir os cofres públicos da despesa ilegal – mas, ainda que o tenha feito, o fato foi de arrepiar os cabelos de tantos quantos defendem o ideal republicano de que, na presidência ou em qualquer outra cadeira do parlamento, devam estar homens acima de quaisquer suspeitas.

Lembremo-nos também, a propósito da vida pregressa de Calheiros, que dela faz parte sua renúncia ao mandato de senador para evitar a cassação certa, o que o tornaria inelegível no pleito seguinte. As acusações que pesavam contra ele: primeiro, ter despesas pessoais pagas por um lobista de construtora; depois, a constatação de que mantinha sociedade, por meio de "laranjas", com o usineiro João Lyra em duas emissoras de rádio e um jornal em Alagoas. Livre da pena da cassação, conseguiu o que queria: voltou ao Senado, segundo ele, "absolvido pelas urnas".

Há quem não veja mal algum em manter o Congresso nas mãos dele. É o caso da senadora paranaense Gleisi Hoffmann, que textualmente afirmou: "Não vemos problemas com a indicação do Renan". O plural usado pela ex-chefe da Casa Civil deve ser entendido não apenas como uma posição pessoal dela, mas do governo e do seu partido, o PT. O mínimo que se pode pensar a respeito é que por trás da recondução do senador não há apenas um sentimento de tolerância ou de leniência em relação ao valioso aliado, mas de cumplicidade – até porque Calheiros, como presidente do Senado, já prestou inúmeros serviços ao governo, como nas manobras para atrapalhar a criação das CPIs destinadas a investigar a Petrobras. Embora variáveis em graus de gravidade, tais sentimentos são todos igualmente condenáveis.

Todas as pesquisas indicam o quão desgastadas e desacreditadas estão as instituições púbicas brasileiras e os políticos em geral. A crise de que sofrem é moral, tal a soma de agressões que cometem contra a probidade. A desconfiança nas instituições e nos que as conduzem leva à desesperança, um mal que deveria ser evitado a todo custo para não comprometer ainda mais o futuro do país.

Falam mais alto, infelizmente, os que não se sentem constrangidos em pisotear a opinião pública, em desvalorizar o voto que receberam e, sobretudo, em demonstrar tão pouco respeito pelas instituições.

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