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O Curso de Arquitetura e Urbanismo valeu por duas lições que aprendi: "Não existem regras para o planejamento urbano – graças a Deus demos um chute certo em Curitiba" e "o segredo do planejamento é a mistura dos ingredientes de uma cidade". A grande jogada é a misteriosa e divertida mélange, como ocorre em Paris. Você caminha com Madame Chanel, açougueiros, os Jeans, as Maries, os Moamedes, cachorros e todos aqueles turistas, em perfeita harmonia. Ah!, doce mistura. É a cidade mais empolgante do mundo para se caminhar – é a cidade do flâneur.

Aqui, os urbanistas criaram zonas em que só se permite morar e nada mais. Não tem graça caminhar, não tem nada para olhar e, para comprar um simples pedaço de pão, o carro precisa sair da garagem. No futuro, como dizia Tim Maia, "vale tudo", desde que se respeite o "meio ambiente". Por que não?

Na realidade, o futuro das nossas cidades está muito mais atrelado à política e a interesses pessoais que ao embasamento técnico e às teorias do "chutômetro". Caso típico do metrô de Curitiba; há mais de 40 anos escuto as mesmas abobrinhas, principalmente como agora, às vésperas das eleições: "Vai ser enterrado." "Agora vai em cima." "Não precisa, pois já temos o expresso". A verdade é que, enquanto houver outros interesses, não sai o metrô! E, se sair, no primeiro formigueiro que encontrarem, interditam as obras, como presenciei no Aeroporto de Fortaleza. É a força das ONGs, conduzindo seus interesses.

E mais: recentemente, o governo, com um ato populista, reduziu o IPI dos automóveis. Resultado: o último feriadão foi um engarrafamento total – todo mundo desfilando de carro novo. Infelizmente, quando se fala do futuro das nossas cidades, lembramos do maldito automóvel (nada melhor que caminhar sobre as calçadas sob os céus de Paris). Há duas semanas estou me locomovendo de táxi. Uma beleza! Atenção, futuro prefeito: a cidade precisa de táxi à vontade, sem ponto fixo e rodando sem parar – como em Nova York ou Londres. E os congestionamentos dos horários escolares, quando as mamães conduzindo suas Tucsons invadem as ruas das cidades, como ficam? Será possível imaginar o futuro com este modelo e competência do presente?

As ruas estão todas iluminadas, os computadores não podem ser desligados e as baladas agitam até o sol raiar. Todas as metrópoles giram 24 horas, 365 dias por ano. É a jornada dos quatro turnos. Se eu tivesse 25 anos, iria trabalhar das 18 à meia-noite e curtir até as 6 da manhã. Hoje, aos 62 anos, os horários se invertem. Tem gente pra todos os turnos. Adeus, sindicatos. Vocês não mais poderão conduzir as jornadas de trabalho de uma cidade!

Tudo está programado em função do calendário escolar: trânsito, segurança, férias, horário comercial. Chega de praia lotada em janeiro, calor insuportável e comerciante reclamando depois do carnaval. Cada família, ou cidadão, poderá optar pelo início do ano letivo no mês que lhe convier; afinal, hoje as escolas são todas empresas, então que se organizem para isto, pois prefiro April in Paris e setembro em Guaratuba. É a cidade flex. Vai ser assim...

Bruno de Franco é arquiteto. Esta coluna é organizada por Clovis Ultramari, Fabio Duarte, Irã Dudeque e Salvador Gnoato, com arquitetos urbanistas convidados para discutir o futuro das cidades.

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