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| Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

Na quarta-feira, Curitiba verá ao vivo e a cores um espetáculo de degradação política – e sentirá o cheiro de enxofre. O ex-presidente Lula prestará depoimento ao juiz federal Sergio Moro. Terá de responder às acusações de haver recebido R$ 3,7 milhões de propinas da empreiteira OAS. O depoimento, por si só, já será um evento simbólico no âmbito das investigações da Lava Jato. Tem mais, porém.

Aquilo que atribuirá certa dramaticidade à coisa será a caravana dos aflitos organizada pelo PT. O partido, cuja elite está presa ou sob investigação da Lava Jato, ameaça invadir Curitiba com seus milicianos para pressionar os juízes federais e os procuradores que cuidam da operação. Vão aproveitar o episódio para tentar converter Lula naquilo que ele não é: o mártir da classe trabalhadora.

A greve não geral compulsória de 28 de abril, a que faltou tanta gente que, se faltasse mais, não iria caber (obrigado, Macedonio Fernández), confirmou a perda de apoio popular do PT e de seus milicianos. A sociedade brasileira mostrou que trabalhar era um protesto mais eficiente que atrapalhar quem precisa de trabalho.

Diante da traição dos operários, esses ingratos, a mistura de frustração com indignação será certamente usada como combustível para a manifestação em Curitiba no dia 10. E o recente habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e que soltou José Dirceu deu a injeção de ânimo – inclusive jurídico – de que os petistas precisavam.

A postura ofensiva de Gilberto Carvalho faz parte da natureza do PT

É o que explica as palavras ameaçadoras do petista Gilberto Carvalho, que foi ministro da Dilma e chefe de gabinete de Lula, numa entrevista recente: “Lula está doido para ir a Curitiba. (...) Vai ficar provado e comprovado que tudo isso é uma tentativa dos golpistas – daqueles que estão tirando direitos dos trabalhadores – de impedir que a gente volte ao governo para restabelecer os direitos dos mais pobres. (...) Não vamos para Curitiba para fazer bagunça, para fazer quebra-quebra. Vamos em solidariedade ao presidente Lula e a todos aqueles que lutam por democracia. Foi uma manobra sórdida, que vamos responder com mais mobilização”.

A postura ofensiva de Carvalho faz parte da natureza do PT. Sempre foi assim, sempre será. Ainda na prisão, José Dirceu, o Antonio Gramsci dos trópicos, escreveu uma carta que ratifica o vínculo entre ideologia e prática política socialista. “Na prisão ou em liberdade, sou um militante político e sempre serei”, afirmou.

Entre frases de autodefesa, de ataque aos delatores e acusações de golpe contra Dilma Rousseff, Dirceu expôs sua obsessão pessoal para reconduzir o PT à Presidência em 2018: “Nada será como antes e não voltaremos a repetir os erros. Seguramente, voltaremos com um giro à esquerda para fazer as reformas que não fizemos na renda, riqueza, poder, a tributária, a bancária, a urbana e a política. Não se iludam vocês e os nossos. Não há caminho de volta. Quem rompeu o pacto que assuma as consequências”.

Não é, como se vê, o testamento de um derrotado, de alguém que vê os acontecimentos envolvendo o PT e seus milicianos como a derradeira derrota. É, sim, um panfleto de convocação das milícias para a luta. As declarações de Gilberto Carvalho, porque similares em conteúdo, devem ser analisadas sob esse aspecto da guerra pela restauração do poder do partido. Ratifico o que escrevi aqui na Gazeta do Povo em agosto do ano passado: o PT não está morto e poderá ser ainda mais perigoso.

Não sejamos ingênuos, portanto, quanto ao uso político do depoimento de Lula em Curitiba. Porque, em relação aos petistas, aplica-se a frase do diplomata francês Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord a respeito dos Bourbon que, sob o governo de Luís XVIII, perseguiram os inimigos que depuseram a monarquia já restabelecida: “Não aprenderam nada, não esqueceram nada”.

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