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 | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

A sociedade assiste, horrorizada, ao caos da violência dentro dos presídios, que agora se revela gritante, impossível de ser escondida. Teses sobre conflitos de facções emergem para explicar o que está acontecendo e medidas pontuais são tomadas para reverter a crise, como a revisão de processos e o transporte de presos de diferentes facções para presídios separados.

A tragédia das penitenciárias é um problema de difícil solução, pois nela se somam muitas tragédias. A primeira delas é a tragédia da vida de uma grande parte da sociedade brasileira. Carente de recursos, vive em condições sub-humanas, explorada em empregos precários e sem o acesso básico à saúde e à educação. Mesmo estando em liberdade, essas pessoas estão presas a uma vida que nunca melhora.

A segunda é a tragédia da violência naturalizada, que produz mais violência. O Brasil tem números de mortes violentas comparáveis aos de países em guerra. E a partir daí, cada assassinato vira mais um número, que não para de aumentar.

São muitas as condições sociais, culturais ou psicológicas que levam à criminalidade

A terceira tragédia é a da sociedade indignada com o crime, que vê de forma ambígua a instituição da prisão; afinal, se por um lado essa é a estrutura que temos para punir aqueles que cometem crimes, e dessa estrutura esperamos a ressocialização, nossa indignação com toda a criminalidade nos leva a desejar que certos criminosos nunca saiam das cadeias, o que nos coloca contra a ressocialização.

Esse beco sem saída deveria instigar a sociedade a buscar meios para que o crime e as condições que levam ao crime fossem reduzidas, e não apenas aperfeiçoar a forma como os crimes são punidos. Essas tragédias têm dificultado a busca por uma solução para o problema, pois, com a prisão da vida indigna, com a violência naturalizada e a sociedade com sentimento de vingança, os problemas apenas se repetem.

São muitas as condições sociais, culturais ou psicológicas que levam à criminalidade, e seria possível mitigá-las se a sociedade procurasse generalizar a dignidade, multiplicar a conduta não violenta e resgatar a humanidade.

Certamente, a atual crise penitenciária demanda soluções imediatas, mas, se pudermos também pensar no longo prazo, o horizonte deveria ser a redução da gritante desigualdade e o enfrentamento da cultura da violência.

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