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 | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A operação policial Carne Fraca segue causando estragos. Países anunciam a suspensão de importação de carne brasileira, o que se soma ao possível impacto do consumo interno do produto, já que a população segue com muitas dúvidas sobre a qualidade das carnes.

O governo se apressou em assegurar a alta qualidade da carne brasileira, o presidente chegou a jantar em uma churrascaria com representantes de outros países, “garantindo”, assim, que come sem desconfiança a carne nacional.

Mas é impossível dizer, na mesma semana, que frigoríficos adulteram alimentos oferecidos ao consumidor, e que a carne brasileira é confiável. Alguém está mentindo.

O ministro de Agricultura, em uma das entrevistas dadas com o objetivo de “tranquilizar” a população, disse que os produtos adulterados identificados pela operação policial já teriam sido consumidos, razão pela qual não haveria mais a possibilidade de produtos de má qualidade ainda estarem nas prateleiras dos supermercados. Que reine a paz com uma informação dessa.

A vaidade das operações policiais espetaculares pode ter feito vítima toda a sociedade

Mas o principal dano causado pela operação policial e sua divulgação foi justamente a desinformação que causou. Afinal, quais frigoríficos cometeram irregularidades? Foram centenas de mandados em vários estados! Mandados de quê? Prisão, condução coercitiva e o que mais? Quais as irregularidades? Investigadores parecem ter dito que papelão era misturado a produtos alimentícios, mas aparentemente qualquer pessoa que visse as provas que levaram a essa conclusão perceberia que não existe nada disso, e foi apenas uma confusão dos policiais. É possível?

A vaidade das operações policiais espetaculares pode ter feito vítima toda a sociedade. Com o intuito de chocar e de ser o centro das atenções, uma operação policial deixou milhões de consumidores com o estômago embrulhado e danificou a imagem de empresas, tudo sem provas. O assunto dominou os noticiários, mas a informação obtida sobre os fatos foi nula. Escassas informações conclusivas apontam para irregularidades pontuais, certamente graves, mas que não teriam tamanha repercussão.

A operação policial adotou o nome de “Carne Fraca”, em alusão à propensão humana de cometer pecados, mas a própria operação policial parece ter cometido um pecado capital: com soberba e vaidade excessivas, agiu esquecendo-se de buscar a verdade.

Espera-se a completa apuração dos fatos, mas, na era da informação, estamos cada vez mais tendo de lidar com os boatos, e preocupa que um alarde tão falso tenha partido de órgãos oficiais. Aliás, isso coloca em xeque todo tipo de informação que tem sido produzida dessa forma. Essa semana, o ombudsman de um grande jornal brasileiro reclamou do excesso de uniformidade das informações veiculadas por todos os grandes jornais, revelando que as fontes têm sido as mesmas: agentes do próprio governo. Isso indica que a mídia tem divulgado, muitas vezes de forma acrítica, informações de fontes oficiais. Afinal, os jornais são do governo, da Polícia Federal ou da sociedade?

Para que não sejamos mais reféns da carne fraca do pecado da vaidade, torna-se necessário que as informações sejam divulgadas de forma crítica, e sem submeter a opinião pública às vaidades do espetáculo.

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