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Michel Temer anunciou que não vai demitir o advogado-geral da União e o ministro do Turismo, respectivamente Fábio Medina Osório e Henrique Eduardo Alves. As demissões foram aventadas depois que Temer demonstrou não estar satisfeito com a atuação do advogado, que não o havia alertado sobre a ilegalidade de nomear o presidente da Empresa Brasil de Comunicação e, outro dia, praticou o velho “sabe com quem está falando?” em uma viagem de avião.

Henrique Alves, por sua vez, é mais um dos peemedebistas atolados na corrupção, e agora tem um inquérito do STF que investiga seu envolvimento no esquema da Petrobras. Seguindo o ritmo das últimas semanas, o ministro seria o próximo a cair e confirmaria a tendência de pelo menos uma demissão do alto escalão por semana, desde o começo do governo interino, junto com os ex-ministros Romero Jucá e Fabiano Silveira.

Com isso, o resumo do início do governo Temer é a omissão nas ações governamentais combinada com o escândalo de a Presidência da República ter sido entregue a um grupo de suspeitos e réus em casos de corrupção.

A nova política exige a radicalização da democracia, com a realização de plebiscitos e referendos mais frequentes sobre assuntos da política nacional

O partido do presidente, o PMDB, está no governo federal desde 1985. Já se vão 30 anos da política de adesão irrestrita a qualquer grupo que esteja no poder nacional. Há aí uma grande questão: é o PMDB que adere a todos os governos, ou são os governos que precisam do PMDB para governar?

Seja como for, esse prazo já demonstra que a atual era da política brasileira, iniciada nos anos 80, já encontra seu esgotamento. Chegamos ao prazo de validade do governismo peemedebista. É uma marca brasileira: a República encontra suas rupturas em períodos de, no máximo, 30 anos. Assim foi com a República da Espada, a República do Café com Leite, o varguismo, o governo JK e a ditadura militar.

Qual será a nova ruptura?

A crise do atual governismo encontra seu sintoma mais agravado com os pedidos de prisão de Renan Calheiros, presidente do Senado; Eduardo Cunha, presidente afastado da Câmara; Romero Jucá, sempre líder de qualquer governo e ex-ministro; e José Sarney, o pilar da República iniciada no seu governo, em 1985.

O esgotamento desse governismo também é fruto da absoluta incapacidade de as lideranças políticas representarem os anseios da sociedade. Enquanto as demandas são por ética e solução para o desemprego e a crise, o presidente da República se cerca de bandidos e propõe medidas impopulares. Estaria esperando a aprovação do mercado?

Além disso, é natural que no Brasil se expresse o sentimento generalizado, em todo o mundo, de renovação da política. Desde o surgimento de novos partidos, como na Grécia e na Espanha, até a reconfiguração da política com a conquista de espaço por posições políticas até pouco tempo desprezadas, como o caso de Bernie Sanders, nos Estados Unidos, e de exemplos em Portugal, Inglaterra e Alemanha.

Mas a velha política ainda encontra espaço para respirar, como na candidatura de Donald Trump, nos EUA, e nos líderes ultraconservadores da Europa que mobilizam uma política de aversão à imigração. Por aqui, a permanência do governo Temer e de deputados e senadores alheios às verdadeiras inquietações da sociedade são os últimos suspiros desse modelo que não poderá mais prosseguir.

A nova política exige a radicalização da democracia, com a realização de plebiscitos e referendos mais frequentes sobre assuntos da política nacional, que antes eram discutidos apenas pelos representantes. Nada de governo de “notáveis”, como anuncia Temer quando nomeia notáveis corruptos. Precisamos da política da participação direta.

Com a profusão de informações, as decisões populares sobre os assuntos da política nacional têm se tornado possíveis e necessárias. Na contramão dos que opinam pelo enfraquecimento da política, o anseio urgente da sociedade é por mais política, e que a participação política não seja privilégio dos eleitos, e sim um exercício coletivo cotidiano.

De concreto, no governo Temer e no PMDB, estão apenas os escândalos e a incapacidade de governar. Relembrando o refrão da Plebe Rude, o concreto já rachou.

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