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Rio de Janeiro – Leitor compulsório de biografias, foi com prazer que devorei, de uma assentada, o "D. Pedro II", tal como foi escrito pelo autor, José Murilo de Carvalho, e não "Dom Pedro 2.º", como a Folha costuma grafar. Além do estilo próprio, bem diverso dos demais historiadores, e mais próximo dos bons romancistas, José Murilo teve um achado importante ao dissecar o seu personagem.

Praticamente o dividiu em dois: o Dom Pedro 2.º que passou à história; e o Pedro d’Alcântara, um homem comum que foi imperador por quase 50 anos. Com Vargas já fizeram isso, dividindo-o também em dois, o Vargas estadista, esfinge dos pampas, e o Getúlio, vulgo Gegê, pai dos pobres, exímio na arte da rasteira. Em 24 de agosto de 1954, uniu os dois no mesmo gesto, César e Brutus no mesmo braço.

Por coincidência ou não, foram dois dos maiores vultos da História brasileira. Renan descobriu na era dos Antoninos da Roma imperial a fase mais feliz da humanidade até então. O painel do Segundo Reinado, bem pesquisado e superiormente expresso por José Murilo, apesar da mancha da escravidão e da esqualidez no parque industrial e em outros setores, pode ser considerado um dos períodos bem realizados pela nação, que afastou a ameaça da desintegração e teve, entre outros méritos, o do regime da liberdade em grau que raramente foi superado por governos republicanos.

"Uma democracia coroada" – pouco a pouco, a frase ganha nitidez histórica por estar perto da verdade. Monarquia constitucional exercida por um homem erudito, avesso às pompas do poder, tornou-se mais democrática do que os sucessivos governos republicanos cujos presidentes, sempre que podem (e mesmo quando não podem), suspiram por uma coroa e um cetro.

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